Apesar de um cenário econômico de incertezas, o número de novos empreendedores aumentou neste ano. Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), houve um aumento de 42% na procura por consultorias para quem decidiu abrir o próprio negócio neste ano: foram 84.264 até agosto de 2020 contra 123.764 até agosto deste ano. Já a Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) registrou 26.614 novos negócios em julho, recorde histórico desde o início da medição do órgão, em 1998.
Conforme a revista IstoÉ Dinheiro, mesmo com a maior alta de inflação para o mês de agosto dos últimos 20 anos, a busca pelo empreendedorismo aparece com força no Brasil. Talvez reflexo de uma taxa de desemprego de 14,7%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) divulgada em julho deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geogragia (IBGE)
“Essa demanda é decorrente das dificuldades enfrentadas pela grande maioria da população brasileira neste período de pandemia, em que muitas pessoas precisaram se reinventar profissionalmente. Há quem viu a necessidade de atualizar o currículo e outros que investiram em cursos, diferente da área de atuação, para abrir o próprio negócio ou ingressar em uma nova área”, explica Silvia Helena Mussolini de Oliveira, coordenadora de desenvolvimento da área de bem-estar do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-SP).
A Jucesp também confirma a tendência. De janeiro a julho deste ano foram abertas 161.562 empresas no estado de SP. Mesmo com 65.372 fechamentos de empresas, o saldo líquido positivo é de 96.190 novos empreendimentos – em 2020 houve um saldo líquido de 120.034 novas empresas. Os meses com mais empresas abertas neste ano foram julho (26.614) e junho (25.699).
Os segmentos que mais registraram aberturas de empresas na Jucesp neste ano foi o de conserto de carros e motocicletas (27,47%), seguido por atividades profissionais científicas e técnicas (12,42%).
Quais são os novos negócios mais procurados por microempreendedores?
Segundo levantamento do Sebrae, que considera os registros feitos na categoria de Microempreendedor Individual (MEI), o segmento de beleza e estética lidera as aberturas de novos negócios:
1 – Varejo de roupas;
2 – Cabeleireiros, manicure e pedicure;
3 – Obras de alvenaria;
4 – Alimentos para consumo em casa;
5 – Restaurantes e similares;
“Os empresários estão ansiosos com o que pode acontecer nos próximos meses do ano. Alguns estão animados com a retomada, já que estavam parados; outros estão preocupados com as dívidas que estão segurando desde o início da pandemia”, diz Wilson Poit, diretor superintendente do Sebrae.
Como abrir meu próprio negócio?
– Pesquisar o mercado e o negócio que quer abrir
É sempre importante analisar qual o produto ou serviço você irá oferecer, para quem e por quanto. A definição do público alvo também é importante: sua média etária, sua classificação econômica, gênero. Por exemplo: se eu abro um novo negócio de estética, ele será voltado a mulheres entre 25 e 45 anos de classe média para um determinado bairro. Também é essencial estudar seus concorrentes e tentar oferecer um produto melhor por um preço mais acessível.
Segundo o professor de administração da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Alexandre Moraes Ramos, o primeiro conceito fundamental é saber separar o que é dinheiro familiar e o que é o negócio, o que seria um princípio fundamental de gestão financeira. “Outras estratégias formais chegam em um segundo momento: ter um orçamento mínimo, saber quais são os custos. Importante é começar, não precisa se preocupar, em um primeiro momento, com a teoria”, incentiva.
– Desenvolver o plano de negócios – ficar atento no investimento dos primeiros meses
Tenha clara a descrição do empreendimento e qual será o diferencial dele no mercado. Saber quais serão os produtos e serviços vendidos, seus principais benefícios e onde/como a empresa vai oferecer seus produtos. Além disso, fazer um planejamento de investimento inicial e por períodos de tempo.
Ramos também enfatiza a importância de diversificar fornecedores, barganhar preços melhores, minimizar custos para ter margem de retorno maior e preço mais competitivo.
– Conhecer a legislação do seu negócio
Saber o que pode e o que não pode fazer é primordial em um novo negócio. Ter claro qual o enquadramento jurídico e tributário da empresa para conseguir se planejar.
– Conhecer o mercado
“Quanto mais um negócio conhece seu público, mais fácil será a venda”, diz Poit. “A grande parte aprendeu que o digital é de extrema importância para o negócio. Nos atendimentos, percebemos que quem estava 100% no digital, já pensa em abrir novamente o físico, e quem estava 100% no físico, percebeu que tem que investir no digital”.
– Cuidar das finanças
Entre os cursos mais procurados pelo Senac em 2021, o de Excel 2019 e Excel 2019 – avançado são os líderes. É importante para um novo gestor ter o conhecimento dessas ferramentas que permitem organizar e controlar suas finanças: quanto entra, quanto sai, para onde sai e qual o balanço total ao fim do mês.
– Procure orientação
Sebrae e Senac geralmente são instituições bastante procuradas por oferecem cursos diversos para novos empreendedores, gratuitos e pagos. O Senac oferece cursos livres pelo Senac Online – ao vivo, com carga horária que varia entre 9 e 72 horas. Apenas neste ano, mais de 20 mil alunos concluíram esses cursos. O Senac também disponibiliza cursos técnicos com mensalidades de R$ 99 por mês.
Já o Sebrae, além da formação, oferece consultorias diversas para novos negócios. Os temas mais procurados neste ano por novos empreendedores foram:
– Gestão de capital de giro;
– Gestão financeira e controle;
– Melhorar o planejamento;
– Formar preço de vendas;
– Avaliar local;
– Marketing e comunicação com o mercado;
– Atuação no canal digital.
Quem são esses empreendedores?
Para o professor universitário Alexandre Moraes Ramos, há dois tipos de empreendedores. O primeiro, movido pela necessidade, em situação de vulnerabilidade social, “que vai empreender na raça, por falta de opção para sobreviver”. “Essas pessoas não têm educação formal, e as chances de sucesso são grandes, pois o que move é a necessidade, e a necessidade faz a gente aprender e dar tudo o que tem. O que move o empreendedor é o que vem de dentro”.
O segundo perfil já possui acesso à educação formal e possui uma certa estrutura financeira. A origem da motivação pelo empreendedorismo é diferente, é feita para alcançar um sonho, uma vocação, até um estímulo familiar.
“O empreendedorismo de pessoas em vulnerabilidade social é muito mais real e verdadeiro. Elas se capacitam à medida que encontram oportunidades e crescem. Neste cenário, o acesso a microcrédito é fundamental”, afirma Ramos.
Cursos mais procurados pelo Senac em 2021
O segmento de Beleza e Estética lidera, seguido por Gestão e Negócios, Comunicação e Marketing, Tecnologia da Informação e Saúde:
– Excel 2019;
– Excel 2019 – avançado;
– Aromaterapia;
– Analista de Marketing em Mídias Sociais;
– Reiki – níveis 1 e 2;
– Reiki – nível 3;
– Reflexologia das mãos e pés;
– Criação de conteúdos para mídias digitais;
– Autocad – projeto em 2D;