Produtores de uva estão rompendo com as normas tradicionais da agricultura ao realizarem a colheita no inverno, em vez do verão. Por décadas, o Cerrado, com seu clima quente e vegetação de árvores baixas e retorcidas, foi dedicado à pecuária e à produção de grãos. No entanto, alguns produtores perceberam o potencial para a vitivinicultura e decidiram investir no cultivo de uvas.
A viticultura no Cerrado é única em comparação ao restante do mundo. Giuliano Pereira, pesquisador de Enologia da Embrapa Uva e Vinho, explica: “Enquanto na França e nos Estados Unidos as videiras ficam paralisadas no inverno, na região Central, no Distrito Federal, no Cerrado, temos solo seco, céu azul e amplitude térmica. O Brasil é o único país que pode produzir vinhos no inverno”, complementa.
Para viabilizar essa produção, utiliza-se a tecnologia brasileira da dupla poda, desenvolvida pela EPAMIG (Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais). A técnica envolve duas podas ao longo do ano: a primeira, entre agosto e setembro, organiza os galhos e estimula o crescimento das folhas, descartando os cachos que surgem. A segunda poda, entre janeiro e março, impulsiona o crescimento dos galhos que gerarão as uvas para a produção de vinho.
Em 2018, o Distrito Federal contava com 18 produtores e cerca de 45 hectares plantados. O sucesso levou o número de produtores a aumentar para 78 em 2023, com mais de 94 hectares dedicados ao cultivo de uvas tanto para vinho quanto para consumo diário.