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sexta-feira 27 de janeiro de 2023 às 18:49h

Brasil e Argentina se reaproximam: o que isso significa para o comércio?

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Em sua primeira visita oficial internacional no seu terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escolheu a Argentina para uma reaproximação com o país vizinho comandado por Alberto Fernández.

Uma das principais preocupações do presidente brasileiro é com a questão comercial entre os dois países. Nossos vizinhos são os terceiros maiores parceiros comerciais do Brasil, atrás apenas de China e Estados Unidos.

A moeda única para transações comerciais entre os parceiros do Mercosul ainda está em fase inicial de debate e, de acordo com matéria da Reuters, os países devem assinar um tratado para financiar exportações que vai facilitar a abertura de crédito para importadores argentinos em bancos brasileiros e um mecanismo de garantia de pagamento.

“Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o financiamento será feito através do Banco do Brasil por meio de operação de carta de crédito com respaldo de um fundo garantidor. Essa proposta, entretanto, ainda precisa ser detalhada com maior transparência para evitar eventuais especulações do mercado frente às ações do Banco do Brasil”, explicou a advogada e analista política Elaine Keller.

Comércio entre os países já foi maior

Dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que o Brasil teve uma balança comercial positiva de US$2,2 bilhões com o país vizinho durante o ano de 2022. Em comparação, o país teve um saldo de US$ 29 bilhões com a China, US$6,6 bilhões com a União Europeia, US$ 11,9 bilhões com os demais países da América do Sul e US$16,4 bilhões com os demais países asiáticos.

“Antigamente o Brasil era um parceiro melhor, só que a Argentina, até por conta da situação inflacionária, teve uma desindustrialização e acabou caindo no ranking de importações”, explicou o professor de Finanças da FEA PUC-SP Augusto Caramico.

Ele também pondera que a ideia da moeda comum para o comércio entre os dois países ainda precisa de mais esclarecimentos, como, por exemplo, quem vai arcar com o prejuízo caso aconteça algum tipo de moratória, mas que a iniciativa pode ser positiva para a balança comercial entre os países, já que a Argentina está com dificuldades de obter dólares no mercado.

“Para as empresas brasileiras que estão na Argentina, facilita o acesso ao mercado de crédito. Podemos ter uma situação em que os bancos vão olhar para o balanço delas e conseguir ter uma previsibilidade de conversão por alguma coisa que não seja em peso”, explicou.

Trigo pode ficar mais barato

Um dos principais produtos que o Brasil importa da Argentina é o trigo. Caramico explica como que uma melhora na situação econômica na Argentina pode fazer com que o trigo chegue mais barato ao Brasil, barateando o preço de produtos como o pão.

“A exportação de trigo não tem uma tarifa para o Brasil até 750 mil toneladas, cerca de 15% da importação ao Brasil, por conta do acordo do Mercosul. Acima disso, a Argentina pode tarifar e ela vem tarifando, porque é uma fonte de receita que ela não pode abrir mão no momento. Se essa situação melhorar, a gente pode conseguir melhorar essa negociação, fazendo com que tendo uma safra boa na Argentina, a gente tenha o produto mais barato por aqui”, explicou.

O professor também aposta que uma ampliação do comércio poderá também fazer com que empresas brasileiras estejam mais presentes no mercado argentino, como as do ramos de celulose e a alimentícia. Keller também se mostra otimista com a aproximação entre os dois países.

“Se as medidas anunciadas saírem do papel, o comércio exterior do Brasil terá excelentes benefícios, como redução de custos das operações cambiais, ampliação de linhas de financiamento e maior segurança jurídica para os contratos firmados com o país vizinho”, acredita.

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