Trabalhadores sanitários percorrem os bairros de Assunção todos os dias para matar mosquitos e combater suas larvas na luta contra a dengue, que faz estragos no Paraguai com 36 mortos desde dezembro, enquanto os casos também aumentam no Brasil e na Argentina.
O propósito dos agentes que trabalham na capital paraguaia é eliminar a água parada e limpar lixões antes do início do período escolar, previsto para a segunda quinzena de fevereiro para reduzir o impacto dessa doença transmitida pelo mosquito Aedes Aegypti.
“Infelizmente, não contamos com os vizinhos”, lamentou o prefeito Guido Gonzáles, referindo-se à falta de colaboração na luta contra o mosquito. “O que mais pedimos é que eles possam se envolver e se conscientizar”.
Assunção e sua área metropolitana, com 1,8 milhão de habitantes, são o epicentro do surto no Paraguai, que se declarou em emergência epidemiológica em dezembro.
Entre dezembro e janeiro, houve “36 mortos, dos quais 12 são crianças e mais de 2.000 hospitalizados com dengue confirmada ou suspeitos de ter contraído a doença”, disse à AFP a médica Agueda Cabello, diretora de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde paraguaio.
A preocupação com a dengue ultrapassa as fronteiras do país. O Brasil enfrenta uma explosão de casos desde o início do ano, e registra durante o mesmo período quatro vezes mais infecções do que em 2023.
Segundo os últimos números do Ministério da Saúde, durante as primeiras quatro semanas de 2024 foram registrados 262.247 casos prováveis de dengue, frente aos 65.366 no mesmo período do ano passado.
O Rio de Janeiro declarou emergência sanitária pelo surto e abriu 10 centros de atenção a poucos dias do início do carnaval.
A dengue matou 29 pessoas desde o início deste ano no país, e ainda estão sendo analisadas outras 173 mortes que podem ter sido causadas pela doença.
Calor, pobreza e a esperança da vacina
Na Argentina, a curva de casos cresceu acima da média depois de um 2023 com um recorde de 68 mortos e mais de 135.000 contágios.
No país também vigora um alerta epidemiológico concentrado nas províncias do nordeste (Chaco, Formosa, Corrientes e Misiones), as mais afetadas.
Segundo o último balanço, durante as três primeiras semanas de janeiro foram reportados cerca de 10.000 casos, um número inédito para esse período.
Nos últimos anos, a Argentina registra um aumento contínuo de contágios. As autoridades sanitárias detectaram a circulação de quatro sorotipos de dengue e sua expansão do norte ao centro do país com clima mais temperado.
A dengue é um retrato da pobreza, na opinião do pediatra infectologista Mateo Balmelli, que recomendou “voltar à velha prática do mosquiteiro como nossos avós”.
Além da pobreza, os especialistas consideram que o efeito da mudança climática, a urbanização desordenada e a falta de compromisso da população com a prevenção também contribuem para que a dengue se mantenha como uma doença endêmica nos países do sul do continente.
O El Niño é outro elemento crucial.
Em dezembro, o Ministério da Saúde brasileiro anunciou a compra de 5,082 milhões de doses para 2024. Segundo a pasta, as vacinas começaram a ser entregues pela fabricante japonesa Takeda em janeiro.
Ainda de acordo com a pasta, em nota divulgada em janeiro deste ano, de início, o público-alvo da vacina serão “crianças e adolescentes de 10 a 14 anos”. De acordo com o comunicado, o esquema vacinal é composto por duas doses com intervalo de três meses entre elas.
Por sua vez, na Argentina e no Paraguai, a mesma vacina é comercializada de forma privada e tem um preço de venda proibitivo para a maioria da população.
Além disso, Cabello acredita ser difícil controlar a dengue apenas com a vacina: “Infelizmente, vamos ter que seguir trabalhando na destruição de criadouros.