O Brasil votou pela primeira vez na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira (7) a favor do embargo econômico, comercial e financeiro a Cuba, promovido pelos Estados Unidos desde 1962.
A Assembleia-Geral aprova anualmente, há 28 anos, uma resolução que condena e pede o fim do embargo. A medida foi adotada mais uma vez nesta terça, com 187 votos favoráveis e esmagadora maioria.
A votação da ONU tem peso político, mas somente o Congresso dos Estados Unidos pode revogar o embargo, que já dura mais de 50 anos.
Pela primeira vez, o governo brasileiro apresentou apoio aos Estados Unidos nesta votação. Israel também votou com os americanos, enquanto Colômbia e Ucrânia optaram pela abstenção. A Moldávia escolheu não exercer o direito a voto sobre a resolução.
O voto do governo de Jair Bolsonaro contraria o posicionamento histórico da diplomacia brasileira de condenar medidas unilaterais econômicas contra países, vetadas pela ONU.
A mudança de posição do Brasil está de acordo com o alinhamento de Bolsonaro com a política promovida pelos Estados Unidos.
Antes mesmo de tomar posse como presidente, Bolsonaro insinuou que pretendia retirar o Brasil do Acordo de Paris para o clima e transferir a embaixada brasileira em Israel de Tel Aviv para Jerusalém – as duas medidas foram adotadas pelo governo de Donald Trump. O presidente voltou atrás após assumir o cargo e receber muitas críticas por seus comentários.
Ainda assim, durante a visita de Bolsonaro a Jerusalém em abril, o governo brasileiro anunciou a abertura de um escritório voltado para as áreas de comércio, ciência e tecnologia e inovação na cidade santa.
A Guatemala, único país a acompanhar os Estados Unidos e transferir sua embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, votou contra o embargo.
A abstenção da Colômbia resulta de um esfriamento de suas relações com Cuba.
Cuba chegou a sediar conversas de paz entre a Colômbia e seu grupo rebelde Exército de Libertação Nacional (ELN), mas a recusa de Havana de extraditar três comandantes guerrilheiros depois que as negociações fracassaram provocaram diversas críticas do governo do presidente Iván Duque.
A fabricante brasileira de cigarros Souza Cruz, pertencente à British American Tobacco, tem uma joint-venture em Havana que produz a maioria dos cigarros em Cuba.
O embargo americano
Os Estados Unidos vêm votando contra as resoluções da ONU de forma constante há 24 anos, mas se abstiveram pela primeira vez em 2016, no governo do ex-presidente Barack Obama, quando Washington e Havana forjaram um relacionamento mais estreito.
As relações se deterioraram agudamente no governo Trump, o que ressuscitou caracterizações de Cuba da Guerra Fria e provocou um endurecimento nas restrições ao comércio e às viagens que Obama havia afrouxado.
“Os Estados Unidos não são responsáveis pelos abusos sem fim do regime cubano contra seu povo”, disse a embaixadora norte-americana na ONU, Kelly Craft, à Assembleia Geral antes da votação.
“Nossa primeira responsabilidade como líderes é defender aqueles sem voz, hoje em especial o povo de Cuba. Que sejamos cobertos de vergonha se nos recusarmos a levantar nossas vozes em defesa às deles”, disse Craft.
No ano passado, os Estados Unidos propuseram oito emendas na resolução que pressiona Cuba a melhorar seu histórico de direitos humanos, mas todas as propostas fracassaram.
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, rejeitou as críticas dos Estados Unidos ao histórico de direitos humanos de seu país, acusando Washington de manipular “os direitos humanos para objetivos políticos, e rejeitamos dois pesos e duas medidas”.
“O governo dos EUA não tem a menor autoridade moral para criticar Cuba ou qualquer outro país quando se trata de direitos humanos”, disse ele à Assembleia Geral da ONU, citando a crise de opiáceos, a violência das armas, a pobreza e o desemprego nos EUA.