O relatório final da Polícia Federal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado revelou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se preparou para a trama quase dois anos antes do resultado das eleições de 2022. Segundo os investigadores, o ex-chefe do Executivo tinha, inclusive, um plano de fuga em março de 2021 caso a investida golpista fracassasse.
A suspeita da PF é por conta de arquivos encontrados no computador do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O militar tinha apresentação em slides com planejamento para militares ocuparem “estruturas estratégicas” a fim de inibir a ação do Poder Judiciário. A data do arquivo é de 22 de março de 2021.
A tese dos investigadores é de que a disruptura institucional chegou perto em 7 de setembro de 2021, diante da ofensiva de Bolsonaro contra o Supremo Tribunal Federal (STF). O então presidente fez uma série de ameaças ao Judiciário e à democracia brasileira durante as manifestações do feriado da Independência. No ápice, ele chegou a dizer que não obedeceria mais às ordens da Corte.
“Os elementos de prova coletados demonstram que os investigados planejaram o cenário de enfrentamento de Jair Bolsonaro com o Poder Judiciário, o que levaria a uma ruptura institucional. Conforme exposto, tal fato ocorreu de forma mais incisiva no dia 7 de setembro de 2021, quando o então presidente ameaçou o STF e seus ministros, evidenciando a prática de atos contra o regime democrático, restringindo a atuação da Suprema Corte brasileira”, disse o relatório.
No entanto, a trama golpista só avançou após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais de 2022. O relatório da PF aponta que os slides encontrados no computador de Mauro Cid previam três cenários que avançariam para a ruptura democrática. São eles:
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Se houvesse possível intervenção do STF no Executivo;
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Se a chapa de Jair Bolsonaro à reeleição fosse cassada;
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Se o Supremo ou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) vetasse o voto impresso, caso fosse aprovado pelo Congresso — o projeto foi derrubado no Legislativo.
O plano também previa uma intimidação da Justiça com a ocupação militar de “estruturas estratégicas”. “Um dos objetivos era a ocupação de estruturas estratégicas por militares que tivessem aderido ao intento golpista, para mostrar apoio ao então presidente Jair Bolsonaro e, com isso, possivelmente, inibir qualquer ação do Estado decretada pelo Poder Judiciário”, escreveu a PF no relatório.
Para a investigação, Bolsonaro pretendia fugir para o exterior caso o plano não funcionasse. “Nesse contexto, mais uma vez se evidencia a utilização de técnicas militares pelos investigados contra o próprio Estado brasileiro com o objetivo de garantir a fuga de Jair Bolsonaro caso a tentativa de golpe de Estado fosse frustrada”, diz o documento.
Jair Bolsonaro saiu do Brasil em dezembro de 2022, após sair derrotado das eleições e se recusar a participar da cerimônia de posse de Lula. Segundo a PF, ele viajou para evitar a prisão e esperar o desfecho dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 — que culminaram na depredação dos prédios dos Três Poderes.