O presidente Jair Bolsonaro afirmou na tarde desta sexta-feira (3) que um eventual conflito entre Irã e Estados Unidos poderia representar “o fim da humanidade”, em virtude do potencial bélico dos dois países. Em entrevista ao Brasil Urgente, do jornalista José Luiz Datena, Bolsonaro adotou pela primeira vez um discurso de distanciamento a uma medida tomada pelo presidente norte americano, Donald Trump.
Na noite da quinta-feira 2, um ataque de drone americano matou Qasem Soleimani, general da Guarda Revolucionária Iraniana, no aeroporto de Bagdá, no Iraque,. O bombardeio também vitimou Abu Mehdi al-Muhandis, um dos líderes das Forças de Mobilização Popular, milícia iraquiana pró-Irã. Soleimani chefiava a unidade Quds, um dos braços de elite da guarda iraniana, e era um dos militares mais poderosos do país.
Minutos depois do ataque, os Estados Unidos assumiram a autoria da ação. Em nota, o Pentágono afirmou que, sob a direção do presidente Donald Trump, “as forças militares tomaram a decisão por uma ação defensiva de proteger os americanos no exterior ao matar Qassem Soleimani”.
Questionado sobre a possibilidade de o ataque aéreo dos Estados Unidos gerar um desdobramento militar maior, Bolsonaro afirmou que “é muito difícil falar que possa haver conflito maior entre esses países”. Na avaliação do presidente, “ninguém ganharia com isso, seria uma relação de perde-perde”. Bolsonaro também afirmou que uma retaliação iraniana seria uma “operação suicida”, mas ressaltou que “quem quer paz precisa se preparar para a guerra”.
Na avaliação de Bolsonaro, o presidente Donald Trump não comandou o ataque aéreo com intenções eleitorais. “Trump não está fazendo campanha política em cima disso, não. No passado, quando Bin Laden deixou de existir, também aventou isso daí no governo Obama, mas não há campanha”, disse. A eleição presidencial dos Estados Unidos ocorrerá no dia 3 de novembro de 2020, e Trump busca a reeleição.
Na segunda-feira 6, Bolsonaro se reunirá com a equipe ministerial para discutir de que forma a tensão entre Estados Unidos e Irã pode impactar, sobretudo, nos preços do combustível. O presidente reafirmou que não há a possibilidade de recorrer ao tabelamento. “O petróleo aqui segue o preço internacional. Nós optamos por isso e não vamos interferir”, disse. O Irã é um dos principais destinos das exportações brasileiras no Oriente Médio.
A escalada de tensões entre os Estados Unidos e o Irã ocorre desde a saída unilateral americana do Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA), um acordo nuclear fechado em março de 2018, e com o restabelecimento de sanções econômicas na sequência. Desde então, vários episódios quase levaram os dois países à guerra, como o abate de um drone americano e o ataque contra as refinarias de petróleo da Aramco, empresa estatal da Arábia Saudita. Teerã acusa os Estados Unidos de “terrorismo econômico”, por asfixiar sua economia por meio das restrições econômicas.