O presidente da CPI da Pandemia, senador Omar Aziz, reagiu há pouco ao desfile de tanques diante do Palácio do Planalto, em discurso na abertura da reunião da comissão nesta terça-feira (10).
Entre diversas críticas ao presidente Jair Bolsonaro, Aziz afirmou conforme a revista Veja, que ele “degradou as instituições e rebaixou as Forças Armadas”, frisando que elas são compostas, “em sua grande maioria”, por homens sérios. E classificou a cena como “patética”, “que mostra apenas uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu”.
No mês passado, o presidente da CPI foi alvo de uma nota assinada pelo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica, depois de criticar militares supostamente envolvidos com esquemas de corrupção no Ministério da Saúde.
Leia abaixo a íntegra do discurso de Aziz:
“Enquanto abrimos essa importante sessão da CPI da Pandemia, o Brasil passa por um momento grave. Aqui do nosso lado, no Eixo Monumental, o presidente Jair Bolsonaro comanda um lamentável desfile de blindados das Forças Armadas, em uma clara tentativa de intimidar parlamentares e opositores.
Bolsonaro imagina com isso estar mostrando força, mas na verdade está evidenciando toda a fraqueza de um presidente acuado pelas investigações de corrupção, inclusive desta CPI, e pela incompetência administrativa que provoca mortes, fome e desemprego em meio a uma pandemia ainda sem controle.
O presidente cria uma encenação, uma coreografia, para mostrar que tem o controle das Forças Armadas e pode fazer o que quiser com o país. É um absurdo inaceitável. Não é um teatro sem consequências, mas um ataque frontal à democracia que precisa ser repudiado.
O papel das Forças Armadas é defender a democracia, não ameaçá-la. Desfiles como esse serviriam para mostrar força para conter inimigos externos que ameaçassem nossa soberania, o que não é o caso.
As Forças Armadas jamais podem ser usadas para intimidar sua população, seus adversários, atacar a oposição legitimamente constituída. Não há nenhuma previsão constitucional para isso.
O Brasil vive o maior período democrático de sua história. Desde 1985, temos eleições livres, instituições fortes e independência dos Poderes. Bolsonaro não tem o direito de usar a máquina pública para ameaçar a própria democracia que o elegeu.
Em apenas dois anos e meio de mandato, Bolsonaro colocou o país nessa situação vexatória, degradou as instituições e rebaixou as Forças Armadas, formada em sua grande maioria por homens sérios e honrados, como pude presenciar de perto no meu Amazonas.
Todo homem público, além de cumprir suas funções constitucionais, deveria ter medo do ridículo. Mas Bolsonaro não liga para nenhum desses limites, como fica claro nessa cena patética de hoje, que mostra apenas uma ameaça de um fraco que sabe que perdeu.
Não haverá voto impresso, não haverá nenhum tipo de golpe contra a nossa democracia —as instituições, com Congresso à frente, não deixarão que isso aconteça. A democracia tem instrumentos para defender a própria democracia contra arroubos golpistas. Agressões à Constituição não são legítimas.
Defender golpe não é aceitável. E defender o fim da democracia precisa ser punido com o rigor da lei. Nós, os democratas, estamos aqui a postos para defender a democracia e o nosso país com os instrumentos que a Constituição nos confere.”