Poucas semanas atrás, a equipe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se sentava para reavaliar o cenário eleitoral e ajustar os rumos da pré-campanha petista à Presidência. Em meio a discussões sobre participação do partido em manifestações e ajustes na agenda de viagens do petista, as especulações esbarraram num cenário preocupante para o PT: a possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro desistir da disputa do ano que vem, dada a persistente queda na popularidade do seu governo. Uma especulação, porque o partido ainda entende que tem ali seu principal adversário. Mas o cenário, dizem petistas na revista Veja, já não é de todo mirabolante.
Na última segunda-feira, o ex-presidente Michel Temer verbalizou a mesma tese. Na estreia do Amarelas On Air, novo programa de entrevistas da revista, o emedebista desenhou um cenário em que Bolsonaro desistiria da disputa e apoiaria uma candidatura de centro, transferindo a esse nome o que lhe resta de capital político. Aí, sim, segundo Temer, quem sabe seria possível unificar algumas das candidaturas já colocadas e fazer frente ao favoritismo expresso até agora por Lula.
Temer fala por experiência. O ex-presidente bem que tentou ensaiar uma candidatura à reeleição. Viu o sonho da Presidência obtida pelas urnas degringolar junto com os índices de aprovação de sua gestão. Optou, então, por jogar como coadjuvante e manter sua influência sobre um futuro governo. Uma vez fora do Palácio do Planalto, o emedebista também sentiu na pele os efeitos de investigações contra ele e acabou preso. Um fantasma que também ronda o bolsonarismo, como informou hoje a colunista da Folha, Mônica Bergamo, ao relatar que líderes da centrão também cogitam uma eleição sem o presidente.
Por enquanto, os bolsonaristas mais apaixonados descartam categoricamente a ideia. Mas há no entorno de Bolsonaro a clareza de que é preciso encontrar uma fórmula para reverter a queda de popularidade expressa nas pesquisas de intenção de voto. Motivo pelo qual o projeto que turbina o programa Bolsa Família se transformou na prioridade absoluta da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Essa é mais uma má notícia para o PT de Lula. Supondo que Bolsonaro consiga fazer um malabarismo orçamentário e tirar o programa rebatizado de Auxílio Brasil do papel, o atual governo terá se apropriado da principal marca de Lula na área social. E, se Bolsonaro se retirar do páreo para apoiar outro candidato que não amargue a mesma rejeição do seu governo, poderia também transferir parte dos frutos colhidos desde a criação do auxílio emergencial diante da crise provocada pela pandemia.