O financiamento privado das eleições de 2022 teve como maior beneficiário o presidente Jair Bolsonaro (PL), que declarou à Justiça ter recebido quase R$ 90 milhões. O valor representa conforme a Folha, 7% de todas as doações da eleição e 82% de toda a receita informada pela campanha do chefe do Executivo.
O financiamento empresarial aos candidatos está proibido desde 2015, mas o poderio econômico continua influenciando o pleito —em menor grau— por meio da doação, como pessoa física, de empresários e executivos.
O primeiro no ranking dos maiores doadores de campanha de 2022 é o empresário Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da gigante de energia, açúcar e álcool Cosan, que já havia sido o maior doador de 2018.
O valor repassado pelo empresário nas duas eleições é semelhante, R$ 7,4 milhões em 2022 e R$ 7,5 milhões em 2018.
Ometto doou recursos a concorrentes de vários partidos, incluindo o PT, mas os valores mais expressivos foram para políticos de centro e de direita que compuseram o arco de alianças de Bolsonaro.
O maior valor foi para o Republicanos, partido que integrou a coligação do presidente da República e venceu as eleições para o Governo de São Paulo, com Tarcísio de Freitas.
O governador eleito em São Paulo foi o candidato que recebeu a maior doação direta de Ometto, de R$ 200 mil.
Outros três ex-ministros de Bolsonaro também receberam dinheiro do empresário: Tereza Cristina (PL), eleita para o Senado por Mato Grosso do Sul, Onyx Lorenzoni (PL), derrotado ao tentar o Governo do Rio Grande do Sul, e Ricardo Salles (PL), eleito deputado federal por São Paulo.
Bolsonaro recebeu R$ 1 milhão do empresário por meio de uma doação dele para o diretório do PP na Paraíba, que repassou o dinheiro para a campanha do presidente.
A Cosan afirmou que “as doações eleitorais feitas por Rubens Ometto Silveira Mello são realizadas em caráter pessoal e seguem as regras estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e demais normas aplicáveis”.
De acordo com a lei, pessoas físicas podem doar aos candidatos até 10% dos rendimentos brutos que obtiveram no ano anterior à eleição, o que permite cidadãos com altos ganhos direcionarem volumes consideráveis para as campanhas.
O sistema de divulgação da prestação de contas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostra que houve injeção de R$ 1,2 bilhão em recursos privados nas campanhas deste ano, contra R$ 1,1 bilhão em 2018 —uma queda de 14%, em valores atualizados.
O segundo maior doador individual foi Frederico Gerdau Johannpeter, da família que controla a Gerdau, com R$ 6,9 milhões.
Ele também direcionou a maior parte do dinheiro para candidatos do arco de alianças de Bolsonaro, com destaque para o PL do Rio Grande do Sul (R$ 3,9 milhões), que bancou a candidatura de Onyx, e para Tarcísio de Freitas (R$ 1 milhão).
O empresário não está entre os 100 maiores doadores de 2018. Ele não quis se manifestar.
O terceiro lugar é de Alexandre Grendene Bartelle, da calçadista Grendene, que doou R$ 6,3 milhões. Seu irmão Pedro Grendene Bartelle é o quinto colocado, com R$ 6 milhões. Ambos estão entre os cem maiores doadores de 2018.
Entre vários candidatos, os irmãos doaram, cada um, R$ 1 milhão para Bolsonaro, mesmo valor direcionado também por ambos ao senador eleito pelo PT do Ceará, Camilo Santana.
A Grendene informou que não se posiciona sobre doações privadas de seus proprietários.
Em quarto está José Salim Mattar Junior, empresário que fundou a Localiza, empresa de aluguel de carros, e chegou a atuar no governo Bolsonaro como secretário de Desestatização.
As maiores doações foram para Bolsonaro (R$ 1,8 milhão) e Tarcísio (R$ 800 mil).
Em 2018, Salim Mattar foi o quarto maior doador individual, com R$ 2,9 milhões. Neste ano, foram R$ 6,1 milhões.
“Salim Mattar acredita que as campanhas deveriam ser financiadas com doações de pessoas físicas e não com o dinheiro público, como é o caso do fundo eleitoral. O dinheiro para o fundo partidário, por exemplo, poderia ser alocado na erradicação do analfabetismo”, disse, em nota, o empresário.
Ele afirmou ainda que a maior parte das doações foi para candidatos do partido Novo, por compartilhar os valores da sigla.
Além disso, Mattar afirmou também que doou recursos para Sergio Moro (União) e Deltan Dallagnol (Podemos) por serem candidatos com potencial político e que compartilham da sua visão política e econômica.
O sexto colocado é uma novidade nas listas de maiores doadores, o advogado, investidor e pastor evangélico Fabiano Campos Zettel, com R$ 5 milhões.
Ele figura como o maior doador individual de Bolsonaro, com R$ 3 milhões, e de Tarcísio, com R$ 2 milhões.
Zettel disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que “realiza doações eleitorais de acordo com a legislação e com suas convicções pessoais e valores cristãos de família conservadora”.
Completam a lista, com doações a candidatos variados, o empresário do setor de segurança Washington Cinel, com R$ 3,6 milhões, Pedro Bueno, CEO da Dasa, com R$ 2,9 milhões, Orlando Bagattoli, empresário do setor agropecuário em Roraima, com R$ 2,9 milhões, e Candido Bracher, ex-presidente do Itaú e colunista da Folha, com R$ 2,7 milhões.
Teresa Bracher, que falou em nome do marido, disse que eles buscam doar “recursos para campanhas eleitorais como uma maneira de melhorar a qualidade do Legislativo de uma forma geral”.
Para isso, procuram “apoiar candidatos éticos, preocupados com as questões fundamentais para o país: ética e eficiência na gestão pública; educação de qualidade para todos e proteção ao meio ambiente”.
Cinel não quis se posicionar. Os demais doadores não responderam aos questionamentos da reportagem.
Ao todo, Bolsonaro declarou receitas de R$ 108,2 milhões, dos quais R$ 88,2 milhões vieram de doações de pessoas físicas, R$ 14,7 milhões do fundo partidário e R$ 2 milhões do fundo eleitoral do PL.
O atual presidente informou ter gasto R$ 64,3 milhões.
Bolsonaro sempre foi crítico do uso de verba pública na campanha. Sua candidatura vitoriosa em 2018 também foi caracterizada por vários exemplos de omissão de gastos à Justiça Eleitoral. Na ocasião, ele declarou gasto de apenas R$ 2,8 milhões.
Eleito presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou receitas de R$ 133,7 milhões, valor um pouco acima do teto de gastos para as campanhas presidenciais, de R$ 133,4 milhões.
Do total recebido, a maior parte, R$ 122 milhões, veio dos fundo eleitoral do PT. O restante veio de doações de pessoas físicas, sendo R$ 6,8 milhões de financiamento coletivo.
Seu principal doador privado, com R$ 600 mil, é o empresário Altair Vilar, de Ipatinga (MG), fundador do Grupo Cartão de Todos. A Folha não conseguiu estabelecer contato com o empresário, que foi também vice-prefeito e vereador na cidade, pelo PT.
As doações recebidas têm que ser declaradas pelos candidatos em até 72 horas, ou seja, em tese, todas elas já estão nas prestações de contas feitas à Justiça Eleitoral. Para outros detalhamentos, os candidatos que disputaram o segundo turno têm até o dia 19 para apresentar a prestação de contas final.