Em sabatina na bancada do Jornal Nacional no dia 28 de agosto de 2018, durante a campanha presidencial, o então candidato Jair Bolsonaro fez uma acusação contra a empresa de comunicação da família Marinho. “Você vive em grande parte, aqui, com recursos da União. São bilhões que o Sistema Globo recebe de recursos da propaganda oficial do governo”, disse para a âncora Renata Vasconcellos.
No dia seguinte, o apresentador e editor-chefe William Bonner leu nota oficial emitida pela cúpula do conglomerado de mídia para rebater a declaração polêmica do entrevistado. Um trecho: “A propaganda oficial do governo federal e de suas empresas estatais corresponde a menos de 4% das receitas publicitárias e nem remotamente chega à casa do bilhão”.
Ainda durante a corrida ao Palácio do Planalto conforme lembrou o portal Terra, Bolsonaro avisou algumas vezes que, se fosse eleito, reduziria a verba governamental aos veículos do Grupo Globo. Dito e feito. De 2018 (último ano da gestão de Michel Temer) a 2019, a participação da TV Globo caiu de 39% para 16% do total investido em propaganda oficial. Enquanto isso, RecordTV e SBT — cujos donos, Edir Macedo e Silvio Santos, são bolsonaristas declarados — ganharam fatia maior do bolo.
“Acabou a mamata (para a Globo)”, repetiu o presidente em várias entrevistas. Ainda que a queda da publicidade oficial não represente percentual tão relevante ao canal carioca, a diferença em valores impressiona. Durante a presidência de Lula (2003-2011), Dilma (2011-2016) e Temer (2016-2019), a Globo recebeu anualmente entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões de publicidade federal.
Com a redução de verba imposta por Bolsonaro à emissora no primeiro ano de mandato e agora em 2020, fontes do mercado publicitário projetam que a Globo deixará de ganhar cerca de R$ 400 milhões até o final deste ano. O faturamento anual da TV gira em torno de R$ 10 bilhões. A contração de dinheiro do governo fará falta, porém, não afetará as operações do canal.
Numerosas demissões, profundo corte de gastos e crescimento de outras fontes de renda (como a plataforma Globoplay) compensarão boa parte da fração de propaganda cortada pela Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência). Visto por Bolsonaro como maior “inimigo” na mídia, o Grupo Globo mantém o tom crítico à sua gestão. O jornalismo do canal ganhou mais audiência ao destacar quase diariamente as polêmicas suscitadas pelo presidente e seus filhos.