A reunião estava marcada para 14h30, embora nas agendas de Jair Bolsonaro e de Paulo Guedes não estivesse previsto esse encontro. O presidente Jair Bolsonaro, segundo fontes do jornal Correio Braziliense, está preocupado com o que vai fazer o seu “Posto Ipiranga”, após a debandada, na noite de ontem, de parte da equipe econômica, devido à crise fiscal, e se apressa para apagar o incêndio. Mesmo depois da saída de quatro auxiliares de Guedes, Bolsonaro garantiu que o ministro continuaria compondo seu governo. Mas poucos analistas ainda acreditam que isso aconteça.
O que enfraqueceu Guedes foi ceder às pressões do governo para romper o teto de gastos, uma regra fiscal que limita o crescimento de despesas da União à inflação do ano anterior. Significa que não há aumento real de despesas. Mas, para permitir o pagamento do novo Auxìlio Brasil de R$ 400, já que o Senado não abriu ainda a possibilidade de parcelar os precatórios (dívidas da União que está sendo decidida na PEC dos Precatórios), que foi aprovada em comissão especial da Câmara dos Deputados, Guedes encontrou como saída pedir uma “licença” para gastar.
Por discordarem da revisão do teto de gastos e também pelo temor de se tornarem alvo de investigações de órgãos como o Tribunal de Contas da União (TCU) e o Ministério Público, Bruno Funchal, Secretário do Tesouro e Orçamento, pediu demissão do cargo ontem. E foi acompanhado do secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, e dos secretários Gildenora Dantas e Rafael Araújo.
Para o economista Gil Castello Branco, especialista em contas pública e secretário-geral da Associação Contas Abertas, “se ele tiver um mínimo de vergonha na cara, terá que sair. Mas se tivesse, já teria saído antes”, ironiza. De acordo com Castello Branco, para Guedes se demitir, não seria preciso Bolsonaro ir ao Ministério. “E Bolsoraro está no prédio da Economia. Mesmo sem uma ressonância magnética, já podemos diagnosticar que a espinha do ministro Paulo Guedes tem dobradiças. Daí a facilidade para se curvar aos interesses da ala política”, reforça o especialista.