Com Sérgio Moro impondo condições à permanência no governo, o presidente Jair Bolsonaro se viu mais distante da trajetória de seu ministro da Justiça, que conservou a imagem de juiz da Lava Jato mesmo depois dos reveses sofridos nos últimos tempos. Segundo o Estadão, o embate pelo controle da Polícia Federal, exposto por notícias de que Moro não abre mão de indicar o comando da corporação, é uma ferida aberta dentro do bolsonarismo.
Na campanha de 2018, Bolsonaro se tornou, por falta de opção, o candidato natural da militância de direita, formada no auge das sessões em que Moro agia de forma implacável nos julgamentos da Lava Jato. A decisão do então juiz de Curitiba de aceitar a pasta unificada da Justiça e da Segurança Pública, dois ministérios em um, foi considerada como um “gol de placa” de Bolsonaro – o deputado do baixo clero nunca fora reconhecido como um estrategista político. Com uma canetada, ele trazia para debaixo de seu guarda-chuva o nome mais popular de um movimento.
De lá para cá, Bolsonaro tentou minimizar a força de Moro, uma sombra pesada especialmente para os filhos do presidente, sempre ciosos da imagem do pai protagonista.
A semana tem sido intensa. As negociações de Bolsonaro com lideranças do Centrão antecederam o imbróglio envolvendo Moro. Bolsonaro flertou com nomes escrachados nas redes sociais, como Valdemar Costa Neto e Roberto Jefferson. Por muito menos, o presidente foi violentamente atacado por sua militância em janeiro, quando ensaiou tirar a área da Segurança Pública do ministro da Justiça e entregar para o aliado Alberto Fraga, ex-deputado do DEM. “Vai trocar o Moro pelo Fraga?”, foi uma contestação dura enfrentada por Bolsonaro no Twitter.
Se mantiver firme a busca de apoio do Congresso, numa aliança real com líderes de partidos de bancadas influentes, o presidente dará um “cavalo de pau” no governo, mudando de forma brusca a imagem que tentou construir até aqui de seu mandato.
O “justiceiro” da nova política, que tem Moro como fiel escudeiro, dará espaço ao governante entrosado com o Parlamento, mas sem características que garantiram até aqui a unidade de seu campo político e de sua militância.
No presidencialismo de coalizão, o Palácio do Planalto depende dos votos do Congresso para tocar sua vida. Mas, pelo menos na história mais recente, liderança alguma da Câmara e do Senado garantiu a um presidente a permanência no Planalto sem levar em conta a economia e o que as ruas pensam.
A propósito, há entre os interlocutores de Bolsonaro quem veja Moro como uma figura que não apenas divide a militância com o presidente como tem a deferência de setores chaves do governo. Tanto é assim que os generais da equipe não estão medindo esforços para minimizar a mais nova queda de braço entre o presidente e o ministro da Justiça. Mas Moro não é Mandetta.