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Bolsonaro e Collor: do “Fenômeno” ao “Mito”

sexta-feira 2 de novembro de 2018 às 06:13h

Para quem viveu aqueles idos de 1989, os primeiros três dias do governo Bolsonaro – dá para dizer isso, porque o de Temer na prática já acabou – estão com um certo cheiro de Fernando Collor. A começar pela linguagem da luta marcial, já que o mesmo “Ippon” , do karatê, que Collor prometeu usar para acabar com a inflação (sem sucesso), foi citado por Bolsonaro como o golpe a usar contra a violência e a “ideologia “.

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As semelhanças continuam nos primeiros passos da montagem do novo governo. Como Collor, Bolsonaro assume dando um cavalo-de-pau administrativo na Esplanada, juntando ministérios, extinguindo pastas e cargos, anunciando com estrépito nomes desconhecidos para comandar órgãos públicos e, sobretudo, prometendo acabar com o toma-lá-dá-cá das nomeações políticas.

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O superministério da Economia que vai reunir Fazenda, Planejamento e Industria e Comércio sob a batuta do economista Paulo Guedes, por exemplo, é réplica fiel da pasta comandada por Zélia Cardoso de Mello naqueles tempos.

Da mesma forma, se vingar a ideia, teremos uma superpasta da Infraestrutura. Normalmente, esse tipo de mudança administrativa produz mais espuma do que chopp, uma espécie de verniz no marketing do novo governo. Se não forem extintos, mas apenas rebaixados e fundidos esses órgãos, a redução de despesas é mínima.

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Collor em 1990

Não é por essas semelhanças entre Bolsonaro e Collor que iremos, como aves agourentas, lançar previsões de que os dois governos terão fim parecido. Impensável prever o fim de um governo que nem começou formalmente. O Brasil não merece isso.

Por isso, é bom torcer para que a identificação entre Bolsonaro e Collor pare por aí. E que Bolsonaro use o crédito político e a legitimidade de presidente recém-eleito para fazer menos do que Collor, que já na primeira semana confiscou a poupança de todo mundo. Já será o bastante se usar essa força inicial para aprovar reformas como a da Previdência e a tributária, sem avançar contra direitos e garantias da cidadania.

A parecença de ambos, inclusive no estilo, alimenta, porém, temores de que o “Mito” venha a seguir outros passos do “Fenômeno”. Por exemplo, no discurso heróico e no gestual impetuoso de quem prometeu botar fim à corrupção e extinguir a velha política. Dependendo do caminho escolhido, pode ir parar na vala da ingovernabilidade. Afinal, ambos foram eleitos sob o presidencialismo à brasileira, aquele em que todo mundo pensa que o presidente que sai da eleição é um ente superpoderoso, que faz e acontece. Só que quem manda, no fim, é o Congresso – que quando se cansa de um presidente pode mandá-lo para casa sob diversos pretextos.

Collor deu um “Ippon”no establishment político e, quando se deu conta, viu-se saído porta a fora do Planalto. Bolsonaro ainda não fez uma opção clara entre discurso e realidade, mas dela vai depender seu futuro.

 

Por Helena Chagas

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