O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta última segunda-feira (15) que seu prazo de espera por uma definição com o PL tem limite e revelou que voltou a conversar com outros partidos sobre uma possível filiação.
“Depende do Valdemar [Costa Neto, presidente do PL], com a sua habilidade que todo mundo conhece, conduzir essa coisa. O PP me quer lá ainda. Conversei com o Ciro [Nogueira], com o Fábio Faria, Rogério Marinho, as pessoas que estão no Brasil. Eu tenho um limite. [Conversei com] O Republicanos também”, disse ele, durante visita à Expo 2020, em Dubai.
A filiação do presidente ao PL estava praticamente acertada, mas foi adiada em razão da composição de palanques estaduais. O maior entrave é São Paulo, onde o partido pretende apoiar a candidatura do tucano Rodrigo Garcia. Em estados do Nordeste, há acenos a partidos de esquerda.
De acordo com Bolsonaro, não é possível esperar até o mês de março para uma definição –o prazo legal para filiação partidária é o início de abril.
“O prazo é março, mas março é tarde demais, porque já começam pessoas a se apresentarem como candidatos pelo Brasil”, afirmou.
Ele disse esperar por uma definição em um prazo curto. “Espero em pouquíssimas semanas, duas ou três no máximo, casar ou desfazer o noivado, mas acho que tem tudo para casar e ser feliz”, declarou.
O presidente refutou a afirmação de que haveria um recuo de seu grupo político caso a filiação não se confirme.
“Não vou voltar atrás porque não falei nada. Na política as coisas só acontecem depois que você assina.”
Bolsonaro negou relato divulgado pelo site O Antagonista, de que teria trocado ofensas com Valdemar por mensagens de texto. “Não sei como divulgam uma matéria que teria trocado ofensas com Valdemar Costa Neto. Nem conversei com o Valdemar por telefone, houve uma rápida troca por zap”, declarou ele.
O presidente admitiu que o dirigente do PL é conhecido por ser cumpridor de acordos, e que para fazer uma mudança de planos em São Paulo, Valdemar teria que descumprir a palavra empenhada.
“O Valdemar é uma pessoa de palavra, ele está dizendo que está buscando uma negociação, não conseguiu uma garantia de que pode desfazer o que fez no passado. Resolvemos então adiar [a filiação]”, disse o presidente. A entrada formal de Bolsonaro no PL estava a princípio marcada para o próximo dia 22.
Em São Paulo, o presidente pretende lançar como candidato a governador o atual ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, que a princípio resiste à ideia.
“Alguns estados para a possível eleição são vitais, como São Paulo. Eu preciso, se vier a ser candidato, obviamente ter candidatos em quase todos os estados”, declarou. Para o presidente, seu futuro partido “não pode estar flertando com a esquerda” em outro estado.
O presidente revelou que conversou em Dubai com Tarcísio, e que está em curso um processo de convencimento para que ele assuma essa missão.
“Conversei ontem [domingo] com o Tarcísio. Ele aceita discutir uma possível candidatura ao governo do estado de São Paulo. Se ele for candidato, tem tudo para levar”, declarou.
Bolsonaro antecipou-se a uma possível crítica ao ministro, pelo fato de não ser paulista (ele é nascido no Rio). “Pode falar que é uma pessoa que não é paulista, mas eu também me elegi pelo Rio sem ser carioca”, afirmou o presidente, que é paulista de nascimento, mas fez carreira na política fluminense.
Mais cedo, em conversa com a Folha, o ministro confirmou que está falando sobre eleição com o presidente, mas afirmou que ainda não tomou nenhuma decisão.
Também presente à comitiva de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) declarou que não existe no momento um plano B para o caso de a filiação ao PL não se concretizar. “Estamos nos acertando, neste momento não há outra alternativa.”
Parlamentares do partido de Valdemar Costa Neto que defendem a migração do clã para a legenda dizem se tratar apenas de um “realinhamento” do presidente com a cúpula do partido.
“Se pega um partido grande, como PP e PL, que tem suas coligações nos estados, é inevitável que apareça problema. Mas é ótimo que apareça agora”, disse o deputado Capitão Augusto (PL-SP), aliado de Bolsonaro.
Presidente da Frente Parlamentar de Segurança Pública, Augusto negou que haja disputa interna no partido, apesar de eventais divergências no Nordeste. “Quem manda é o Valdemar Costa Neto, e não há nenhum outro grupo ou nome disputando com ele essa liderança.”
Integrantes da ala ideológica do bolsonarismo no Congresso, contudo, comemoraram o adiamento da filiação e a fala do presidente de que ainda conversa com outras legendas.
Parlamentares ouvidos em reserva disseram ter causado mal estar a aliança com um ex-condenado e preso do mensalão, Valdemar Costa Neto. Os relatos de predileção por um nome menos ligado a Lula também chegaram aos ouvidos da família Bolsonaro.
Mas o presidente tem demonstrado preocupação com outros aspectos mais pragmáticos para sua filiação, como, por exemplo, palanque nos estados e tempo de rádio e TV.
Bolsonaro está sem partido há cerca de dois anos, desde que rompeu com o PSL, legenda pela qual se elegeu. Neste período, ele tentou várias alternativas, a começar da criação de um novo partido, a Aliança pelo Brasil, mas a empreitada fracassou.
Depois, flertou com diversas legendas, como PTB, PRTB, Patriota e PP, até definir-se pelo PL, mas com a condição de que pudesse ter controle total sobre o partido, incluindo a definição dos palanques estaduais.
Na última quarta-feira (10), após uma reunião com Bolsonaro, Valdemar havia anunciado a filiação do mandatário ao partido em um ato no dia 22 de novembro, em Brasília.
De acordo com o próprio Bolsonaro, a ida para o PL estava 99,9% confirmada e dependia de detalhes.