Em depoimento à Polícia Federal, prestado no último dia 5, o ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou que conversou com o então chefe da Receita Federal, Júlio César Vieira Gomes, e “determinou” que ele estabelecesse contato com o tenente coronel Mauro Cid, à época ajudante de ordens da Presidência, para tratar das joias que foram dadas ao então chefe do Executivo e à primeira-dama Michele Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita. Os itens de luxo acabaram apreendidos pelo Fisco no Aeroporto de Guarulhos.
Segundo Bolsonaro, o contato com o chefe da Receita se deu enquanto Mauro Cid foi atrás de informações sobre as joias apreendidas, por solicitação do próprio presidente. O ex-chefe do Executivo ainda alegou que só soube do caso em novembro de 2022, enquanto a apreensão se deu no ano anterior.
A íntegra do depoimento de Bolsonaro foi divulgada, ontem, pela jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil. A reportagem confirmou os detalhes do relato do ex-presidente à PF.
Na oitiva realizada no último dia 5, Bolsonaro ainda narrou que não se recorda de quem lhe contou sobre a apreensão, sendo possível ter sido alguém do Ministério de Minas e Energia. As joias foram apreendidas na mochila de um assessor do então ministro Bento Albuquerque, titular da pasta. O ex-presidente negou ter conversado com Albuquerque a respeito do caso.
O ex-presidente narrou à Polícia Federal que é de “praxe o recebimento de presente quando de visitas ao Oriente Médio, não havendo um motivo específico para as joias terem sido ofertadas pelo governo da Arábia Saudita”.
Exoneração negada
Júlio César Vieira Gomes também já depôs à PF. Após a oitiva, ele pediu exoneração do cargo que ocupa na Superintendência da Receita Federal no Rio de Janeiro, o que foi negado pelo governo Lula.
No caso das joias, o então secretário fez pressão sobre os servidores públicos para liberar os itens retidos na alfândega do Aeroporto de Guarulhos.
Para conseguir liberar as joias, avaliadas em R$ 16,5 milhões, e enviá-las ao então presidente e à primeira-dama Michelle Bolsonaro, Gomes pressionou servidores de diversos departamentos, por meio de mensagens de texto enviadas por aplicativos como WhatsApp, gravou áudios, fez telefonemas e encaminhou e-mails sobre o assunto.
Em um dos áudios, Julio Cesar pede que um servidor acesse outro departamento do órgão federal — a Coordenação-Geral de Programação e Logística (Copol) — e passe seu contato para o responsável da área, sob o argumento de que precisa explicar o caso da retenção das joias e que se trata de um item que “faz parte do gabinete pessoal” da Presidência. “É do presidente da República. Existe um gabinete pessoal, é um órgão que ele criou.”