O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta última quarta-feira (19) que o processo jurídico que levou à sua denúncia pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) é como uma “cartilha conhecida” aplicada na Venezuela, em Cuba e na Bolívia. Ele chamou a acusação formal de “truque”. Bolsonaro se pronunciou em seu perfil no X (antigo Twitter). No texto, afirmou que, em “regimes autoritários”, é preciso “fabricar inimigos internos para justificar perseguições, censuras e prisões arbitrárias”.
“O mundo está atento ao que se passa no Brasil. O truque de acusar líderes da oposição democrática de tramar golpes não é algo novo. Fabricam acusações vagas, se dizem preocupados com a democracia ou com a soberania, e perseguem opositores, silenciam vozes dissidentes e concentram poder”, diz a publicação.
Os crimes imputados a Bolsonaro e aos demais acusados pela PGR são organização criminosa, abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado com uso de violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Esta foi a primeira publicação do ex-presidente após ser denunciado. Até então, ele havia se limitado a compartilhar publicações de aliados, nas quais o defendem ou fazem piadas na tentativa de tirar a credibilidade da acusação.
Reunião
Bolsonaro participou na manhã de ontem de uma reunião em Brasília com parlamentares da oposição para traçar estratégias de ação após a denúncia da PGR. O encontro foi organizado na casa do líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS).
No momento em que ocorria o encontro, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes determinou o fim do sigilo do acordo de delação premiada do ex-ajudante de ordens da Presidência, o tenente coronel Mauro Cid.
Parlamentares ouvidos pelo Estadão afirmaram que Bolsonaro estava tranquilo durante a reunião e confiante nas estratégias propostas pelo grupo. A tática de aliados do ex-presidente neste primeiro momento é de tentar contestar a denúncia da PGR sob alegação de que as provas reunidas pela Polícia Federal contra o ex-presidente são frágeis.
Os parlamentares também apostam em uma retórica de que a denúncia inflama o País. O ex-ministro do Turismo Gilson Machado citou, por exemplo, as declarações do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, de que Bolsonaro teria colaborado com a transição de governo em 2022.
‘Liderança’
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), saiu em defesa de Bolsonaro, seu padrinho político. No X, Tarcísio disse que o ex-presidente “jamais compactuou” com qualquer tentativa de golpe. “Jair Bolsonaro é a principal liderança política do Brasil. Este é um fato. Jair Bolsonaro jamais compactuou com qualquer movimento que visasse a desconstrução do estado democrático de direito. Este é outro fato. Estamos juntos, presidente”, escreveu o governador de São Paulo na rede social.
Críticas
Em nota divulgada anteontem, os advogados do ex-presidente rebateram a denúncia. A acusação foi classificada como “inepta”, “precária” e “incoerente”. A defesa de Bolsonaro também disse que a denúncia é baseada em uma “narrativa fantasiosa” do tenente-coronel Mauro Cid.
Os defensores também afirmaram que, “a despeito dos quase dois anos de investigações, nenhum elemento que conectasse minimamente o presidente à narrativa construída na denúncia foi encontrado”.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou anteontem que não há “nenhuma prova” contra seu pai. Também em publicação no X, o parlamentar fez críticas ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, e ao ministro Alexandre de Moraes. “Mesmo depois de Alexandre de Moraes ter esculachado o Ministério Público Federal na fabricação dos inquéritos e torturado Mauro Cid para ‘delatar’ o que não existiu, o PGR se rebaixa. Cumpre sua missão inconstitucional e imoral de atender ao fígado de Alexandre de Moraes e ao interesse nefasto de Lula, que está nos seus últimos meses de presidência”, escreveu Flávio.
Festa
A denúncia se tornou motivo para comemoração, durante a festa de aniversário do líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE). Antes de soprar a vela do bolo, Guimarães fez um discurso no microfone e citou a denúncia com entusiasmo. “Que essa noite nos dê cada vez mais força e energia”, afirmou o líder diante dos convidados. “A PGR denunciar o Bolsonaro foi o melhor presente que eu recebi de aniversário”, disse o petista.
A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), também se manifestou sobre a denúncia da PGR. “O líder Guimarães celebra aniversário recebendo um presente muito especial para aqueles que defendem a democracia: a denúncia de Jair Bolsonaro”, disse Gleisi. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-CE), completou: “Belo presente de aniversário que ele ganhou, né?”