Ao dizer que “jogará a toalha” se não for candidato do PL à Presidência da República em 2026, Jair Bolsonaro (PL) manda ao presidente do partido, Valdemar da Costa Neto, o recado de que, se não concorrer na disputa eleitoral, não atuará como cabo eleitoral, afirmou o colunista Leonardo Sakamoto em entrevista ao portal Uol desta quinta-feira (17).
Bolsonaro mostrou irritação com declarações de Valdemar, que afirmou ontem (16) que “o pessoal da extrema direita” do partido precisa aceitar a aproximação com o centro e o diálogo com setores da esquerda para vencer as eleições de 2026. Valdemar também havia dito que Tarcísio de Freitas (Republicanos), como “o primeiro da fila” na corrida presidencial e também citou o nome do deputado Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente. Bolsonaro, que conta com a possibilidade de uma anistia, está inelegível até 2030, condenado por abuso de poder político e econômico, e uso indevido dos meios de comunicação.
Bolsonaro tenta mostrar para o Valdemar da Costa Neto que ele não vai ser simplesmente um cabo eleitoral. Ele fala, olha, se eu não estiver no jogo, eu estou fora, tá? Então, trate de me colocar no jogo. Caso contrário, eu não vou ser cabo eleitoral do seu partido.
Ele está numa tática de sobrevivência. As urnas de 2024, sobretudo a eleição de São Paulo, mostraram para o Bolsonaro que ele já não é tão necessário. Não é necessário nem para o seu eleitor. O eleitor que votou no Bolsonaro lá em 2022 transitou livremente nessa eleição de São Paulo: um pedaço foi para o Ricardo Nunes, o outro pedaço foi para o Pablo Marçal no primeiro turno. Isso tudo à revelia das posições do Bolsonaro, que funcionou ali ou se comportou como um ioiô,. de um lado, do outro.
O Valdemar Costa Neto fareja o futuro do Bolsonaro com a experiência de quem já passou pela cadeia no escândalo do Mensalão. Ele já era um homem muito pragmático e ficou ainda mais. Ele está identificando a necessidade de deflagrar uma articulação, ainda que em marcha lenta, para se tornar relevante em 2026. Por isso, ele reconhece tacitamente, sem declarar, a dificuldade de aprovar uma anistia para livrar as culpas do Bolsonaro e já está injetando a candidatura presidencial do Tarcísio de Freitas nos seus planos.
Agora, Bolsonaro quer garantir sua liderança no PL e manter o apoio jurídico do partido para enfrentar seus processos.
Bolsonaro tenta manter sua relevância e mostrar: ‘Olha, o candidato sou eu’. Ele tenta manter a sua relevância relativa dentro da extrema-direita, dentro do partido, dentro do jogo político, o que se tornou ainda mais importante depois que Pablo Marçal chegou ao público e mostrou que o rebanho da extrema-direita —que em determinado momento acompanhou o berrante de Jair Bolsonaro— pode se encantar por outro tocador de berrante como ele.
Com tecnologias, com estratégias de comunicação e melhor comunicador que o próprio Jair. Isso colocou Bolsonaro na berlinda, sendo obrigado inclusive a engolir seco e não fazer campanha para Ricardo Nunes (MDB), exatamente por conta do medo de sua militância, apesar de ser a chapa que ele apoiava. Então, Bolsonaro tenta se manter relevante no meio desse processo todo.
Bolsonaro nunca viu o PL como seu partido, ele sempre o enxergou como um partido de aluguel para suas necessidades, mas o PL não é o PSL. O PL é grande, era bem maior do que Bolsonaro e os bolsonaristas que entraram lá. Valdemar Costa Neto, muito espertamente, utilizou esse momento com Bolsonaro para fazer crescer o partido. Valdemar Costa Neto, que já esteve ao lado tanto do PT quanto do Bolsonaro.
Leonardo Sakamoto, colunista do Uol