O PT de Lula demonstra surpresa segundo a coluna de José Casado, na Veja, com a melhoria na avaliação do governo Jair Bolsonaro no segmento mais pobre do eleitorado, onde a renda mensal familiar máxima é de dois salários mínimos (R$ 2,2 mil).
Eles detêm pouco mais de 48 milhões de votos, e representam fração de 33% dos eleitores. É o grupo que, essencialmente, há oito meses sustenta Lula na liderança isolada, e unânime, das pesquisas de intenção de voto.
Efeitos do socorro governamental (R$ 400 mensais) eram previsíveis nessa faixa de renda, porém, não na velocidade detectada nas sondagens das últimas quatro semanas.
Um de cada dois eleitores continua achando ruim a administração Bolsonaro. A novidade é que nas últimas quatro semanas houve mudança relevante no comportamento crítico dos mais pobres.
Exemplo: queda de oito pontos percentuais na taxa de reprovação (de 57% para 49%) captada na pesquisa Quaest/Genial, divulgada ontem. Foram duas mil entrevistas presenciais, em todas as regiões, com margem de erro de dois pontos percentuais.
Lula se mantém na dianteira, com larga vantagem nesse segmento (35 pontos à frente de Bolsonaro, na sondagem de ontem). Mas começa a ver uma tendência à redução da sua vantagem entre os mais pobres no Nordeste e no Nordeste.
Aparentemente, o auxílio financeiro governamental no final de um ciclo da pandemia provocou uma redução expressiva (12 pontos) na avaliação negativa do governo entre eleitores pobres do Norte — em fevereiro 48% achavam ruim a administração Bolsonaro, agora são 36%. A queda nas críticas foi menor (5 pontos) no Nordeste — de 61% para 56% em um mês.
Esse quadro, dosado pela preocupação com o rumo da economia, é confirmado em outras pesquisas quantitativas encomendadas pelo governo e, também, nas chamadas qualitativas — com seleção de grupos de eleitores— contratadas pelo Partido Liberal, que abriga Bolsonaro na disputa pela reeleição.
É notável, também de acordo com Casado, a resiliência do antilulismo. Ela se expressa nas pesquisas na concentração de um quarto do eleitorado em torno do seu antagonista. Bolsonaro conservou-a na travessia da pandemia; de uma grave crise de desemprego; da alta recorde da inflação nos últimos doze meses; e, até agora, da imprevisibilidade econômica derivada da guerra de Putin, de quem se diz admirador.
Não significa garantia de futuro nas urnas, nem para ele e nem para o adversário: um terço do eleitorado continua rejeitando os dois líderes nas pesquisas. Além disso, de cada três eleitores que hoje dizem preferir Bolsonaro ou Lula, pelo menos um deixa clara a possibilidade de mudar de voto caso “algo aconteça”. É o que motiva os demais candidatos a continuar na batalha.