A pesquisa revela uma tendência geral de descontentamento com 2013, com somente 16% das pessoas se dizendo orgulhosas de terem apoiado os atos. No entanto, entre as pessoas que votaram em Bolsonaro, o resultado salta para 21%. Já entre quem diz ter votado em Lula, os orgulhosos com os atos caem para 13%.
Também é ligeiramente maior o número dos entrevistados que votaram em Lula arrependidos de terem apoiado as manifestações daquele ano (5%), contra 3% de quem escolheu Bolsonaro em 2022. A pesquisa ainda identificou que 39% das pessoas que votaram em Bolsonaro em 2022 não apoiaram os atos de junho de 2013 e não se arrependem disso, enquanto entre eleitores de Lula o índice é um pouco maior, 43%, ainda dentro da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos. O esquecimento também é maior entre os petistas: 25% deles dizem não se lembrar das manifestações, contra 22% dos eleitores de Bolsonaro
As respostas sobre orgulho e arrependimento — Foto: Editoria de arte Ipec/O GLOBO
Entre aqueles que votaram nulo ou em branco em 2022, 11% disseram aos pesquisadores ter orgulho de ter ido às ruas, e 40% afirmaram não ter apoiado e que não se arrependem disso.
Para o professor Christian Lynch, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Iesp-Uerj), apesar de o significado de Junho ser disputado por grupos políticos diversos, a série de derrotas que a esquerda teve a partir de 2013 “contaminou” sua interpretação dos protestos.
— Tendo em vista tudo o que ocorreu depois, sempre no sentido de acontecimentos excepcionais destinados a depor e eliminar a possibilidade de a esquerda voltar ao poder, como Lava-Jato, impeachment de Dilma, cassação dos direitos eleitorais de Lula, eleição de Bolsonaro e quase criminalização da esquerda, é natural que os eleitores de Lula tenham más lembranças do evento que deflagrou aqueles acontecimentos — diz Lynch.
Nova direita
Em outra pergunta do questionário, mais um sinal da preferência bolsonarista por 2013. Entre os eleitores de Lula, 38% consideram que os protestos trouxeram consequências negativas ou mais negativas do que positivas. Entre os eleitores de Bolsonaro, o número cai para 30%.
Por outro lado, 21% dos bolsonaristas afirmam que as manifestações tiveram consequências muito positivas ou mais positivas que negativas, enquanto, entre os lulistas, 16% têm a mesma opinião. Para 24% dos eleitores de Bolsonaro, não houve consequências nem positivas nem negativas, e 18% dos eleitores de Lula têm essa opinião mais neutra. E, para 29% dos lulistas, as consequências foram muito negativas, enquanto entre os eleitores de Bolsonaro esse número cai para 19%.
Os protestos foram positivos ou negativos? Resultados por eleitores de Lula e Bolsonaro — Foto: Editoria de Arte Ipec/O GLOBO
Para o cientista político Renato Dorgan, do Instituto Travessia, esses resultados fazem parte de uma lógica que envolve o ex-presidente abraçando o discurso da antipolítica e do combate à corrupção com força, enquanto PSDB, rival histórico do PT nos pleitos federais, também se viu envolvido em investigações sobre corrupção, como a Lava-Jato.
Classes médias
O cientista político avalia ainda que 2013 significou o nascimento de uma revolta generalizada contra a política, que culminou com o fortalecimento de “outsiders” e mais liberais, como o Movimento Brasil Livre, o Partido Novo e também o bolsonarismo:
— Em 2013 surge uma insatisfação contra o sistema, contra a política brasileira daquele momento, que era muito o PT e as alianças do partido com o Centrão. A partir de 2016 cresce uma antipolítica e os discursos mais totalitários, da ordem e dos costumes. Em 2016 há a vitória de outsiders, como João Doria, e depois vem 2018 com Bolsonaro e a vitória de políticos do MBL. Aquele movimento não foi de massas, mas sim de classe média predominantemente.
Para a cientista política Luciana Santana, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), “ao longo prazo, pessoas que se apropriaram dos discursos anticorrupção e dessas manifestações tornaram-se bolsonaristas”, o que poderia explicar a maior afinidade aos atos de 2013.
O Ipec entrevistou presencialmente 2 mil pessoas de 127 municípios, entre 1º e 5 de junho. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos dentro de um intervalo de confiança de 95%.