O bolsonarismo oscilou entre a negação e a expectativa ainda persistente por uma virada de mesa golpista em reação à posse de Luiz Inácio Lula da Silva neste último domingo (1).
Após o petista subir a rampa do Palácio do Planalto, o clima geral nos grupos de WhatsApp e do Telegram era segundo a coluna de Malu Gaspar, no O Globo, de derrotismo, após semanas difundindo teorias conspiratórias sobre a iminência de um golpe militar.
Apesar de a vitória de Lula ter sido confirmada há exatos 63 dias, as redes bolsonaristas ainda alimentavam a esperança por uma reviravolta que impedisse a posse do novo presidente, como mostramos na última sexta-feira.
Com a cerimônia de posse de Lula em Brasília, nesta tarde, essas teorias caíram por terra, deixando os seguidores de Jair Bolsonaro desorientados.
“Essas imagens da posse são montagens da mídia, não é possível”, afirmou um bolsonarista. “Não sei nem como descrever o que eu estou sentindo nesse exato momento, a vontade é nem de sair de casa mais”, escreveu outra militante. “Será que ele vai mesmo subir a rampa??? Não estou acreditando”, desabafou uma apoiadora de Bolsonaro, antes de Lula vestir a faixa presidencial no Palácio do Planalto.
Vários deles jogaram a toalha. Disseram estar “desistindo do Brasil”, de Bolsonaro, ou mesmo saindo dos grupos.
“Sò acredito em Deus agora. Deixaram o cara subir a rampa sem vocês terem feito nada. Sou bolsonarista. Mas nunca mais voto em ninguém no Brasil”, protestou uma militante. “Foram omissos e cagões. Todos eles. Se o Bolsonaro tivesse inflamado o povo ao invés de ficar quieto talvez a multidão fosse muito maior. Parece que quis abafar as manifestações. Deixou para o último minuto e foi viajar. Por favor, não me expulsem por falar a verdade”, disse outro.
Uma ala, porém, continua bastante resiliente na disseminação de teorias conspiratórias. Até agora ainda persistem mensagens garantindo que as Forças Armadas impedirão o governo do petista.
Segundo esse argumento, que já vem sendo repetido há alguns dias, Bolsonaro deixou uma série de decretos assinados para que os militares assumam o poder por meio de uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Nada disso tem fundamento.
Ainda há quem espere que o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, assuma a presidência do Brasil diante da viagem de Bolsonaro ao exterior.
“Estava pensando aqui com meus botões, tentando entender a estratégia, analisando o Diário Oficial, tudo que foi feito para que as Forças Armadas estivessem preparadas, principalmente o fato de o Superior Tribunal Militar ter a obrigação de interpretar a Constituição Federal, existem vários processos contra o Cabeça de Ovo [o ministro do STF Alexandre de Moraes] aguardando intimação, estamos em recesso, quando voltar desse período, o processo continua. As Forças Armadas julgam e executam o processo. O Alexandre pode ser preso e tão logo seus atos anulados, inclusive os que favoreceram o Lularápio e em consequência anulação das eleições. Paciência, guerras duram o quanto tiverem que durar”, dizia uma mensagem compartilhada em um grupo.
Outra iniciativa tomada pelos bolsonaristas diante do desânimo de parte dos militantes foi apelar para um discurso belicoso.
“Se não for pelo amor, vai ser pela dor”, garantiu um deles sobre uma hipotética intervenção militar. ““Basta o caminhoneiro guardar o caminhão, e o produtor parar a produção”, dizia uma arte amplamente replicada nos grupos.
Nenhuma dessas mensagens, porém, encontra correspondência no discurso do próprio clã bolsonarista. Durante a posse de Lula , Jair Bolsonaro divulgou nas suas redes seu canal no Telegram sem emitir qualquer opinião sobre o novo governo.
Nos últimos dias, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filhos do ex-presidente, falaram abertamente na construção de uma oposição à gestão petista, deixando claro que nem eles acreditam em uma aventura golpista. Eduardo, inclusive, já tenta emplacar nas redes o “Fora Lula”, um reconhecimento implícito da legitimidade institucional do terceiro mandato do petista.