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domingo 22 de novembro de 2020 às 16:42h

Bolsonaristas hesitam, discutem voto forçado em Covas e até cogitam Boulos

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Se os moradores de São Paulo ainda fiéis ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tivessem um pesadelo com o segundo turno, ele não seria tão ruim quanto o resultado imposto pelas urnas no domingo (15). Um representante do arquirrival João Doria (PSDB) contra um nome à esquerda do PT.

O candidato do presidente, abraçado por parte do bolsonarismo a contragosto por falta de representante mais ideológico, foi Celso Russomanno (Republicanos). Ele terminou em quarto, com 10,5%, numa derrota associada à rejeição a Bolsonaro de 50% dos moradores da capital paulista.

Agora, a reduzida base eleitoral de Bolsonaro tem que escolher entre Guilherme Boulos (PSOL) ou o prefeito Bruno Covas (PSDB), que recebeu o apoio de Russomanno –mesmo após a campanha do Republicanos, orientada pelo Palácio do Planalto, ter mirado os tucanos.

O choque de realidade fez com que políticos, influencers e eleitores bolsonaristas apelassem à infundada explicação de fraude e até se viu autocrítica por parte de alguns para explicar o naufrágio.

Mas, na hora de optar entre Covas ou Boulos, há hesitação e silêncio. A maior parte dos bolsonaristas consultada pela reportagem acredita que a base do presidente acabará votando no prefeito, mas há apoiadores que defendem o voto “BolsoBoulos” e também campanhas pela abstenção e pelo voto nulo ou branco.

Recém-eleita vereadora com o apoio de Bolsonaro, Sonaira Fernandes (Republicanos) tateou o terreno para evitar erros: fez um post em suas redes sociais perguntando em qual dos dois seus eleitores vão votar. A maioria respondeu Covas, mas ela própria ainda não declarou sua posição.

Procurada, Sonaira não atendeu à reportagem do jornal Folha de S. Paulo.

Integrante da tropa de choque bolsonarista, o deputado estadual Gil Diniz (sem partido) diz que nunca votará no PSDB, mas não afirma se cogita ir de Boulos.

“Não apoio ninguém, mas nada pior do que um tucano motivado aqui em São Paulo.”

Gil afirma conhecer pessoas que vão votar no PSOL envergonhadamente. “É trágico cogitar Covas para São Paulo, mas também é trágico votar no Boulos”, completa.

Ele critica a falta de compromisso de Russomanno com eleitores de Bolsonaro por apoiar Covas. Segundo Gil, o Planalto deixou os apoiadores do presidente livres para decidir o voto no segundo turno.

O deputado estadual Douglas Garcia (PTB), que fez campanha para Russomanno, agora diz que votará em branco e que será oposição a qualquer um que seja eleito.

Para ele, que é do Movimento Conservador, a maioria dos eleitores desse campo vai se abster. “Nenhuma esquerda nos representa”, diz.

Douglas foi um dos que cobraram uma reflexão sobre um resultado que considerou uma vitória da esquerda.

“Nós, conservadores, precisamos urgentemente fazer uma autocrítica sobre organização. Estes quatro anos de política municipal serão difíceis, e o que sofremos fica de lição para 2022”, afirmou.

“Os dois têm o mesmo nível de estrago, mas pelo menos Boulos não esconde seu radicalismo e sua agenda destrutiva. Já Covas fica deslizando no sabonete e tem também as mesmas ações ditatoriais de retirada dos direitos fundamentais do povo, como a soldagem de estabelecimentos e o cerceamento à liberdade econômica”, disse à reportagem.

O marqueteiro da Aliança pelo Brasil (partido que Bolsonaro tenta fundar), Sergio Lima, afirmou à reportagem que sua posição é a de que os líderes bolsonaristas não devem indicar votos em São Paulo. “Mas o que eu não recomendo é voto na esquerda.”

Uma série de representantes de Bolsonaro na política paulista optou pelo silêncio nas redes sobre orientação de voto, como a deputada federal Carla Zambelli e os deputados estaduais Valéria Bolsonaro, Castello Branco e Major Mecca (todos do PSL).

Procurada pela reportagem, Zambelli preferiu não se manifestar. Ela já postou três vídeos críticos a Boulos, dois deles de trechos de debates em que Covas o atacou.

O deputado estadual Frederico d’Avila (PSL) tampouco se manifestou nas redes. À reportagem afirmou que a escolha é entre “o lockdown e o esbulho possessório”.

“Nada contra a pessoa do Bruno, mas sim contra a submissão dele aos desvarios do João Doria. Mas indico não votar no candidato do mesmo partido do autor da tentativa de homicídio do presidente da República”, afirma o deputado, em referência ao autor da facada, Adélio Bispo, que já foi filiado ao PSOL.

O voto útil em Covas não é opção automática dos bolsonaristas porque a reeleição do tucano fortalece o projeto de Doria de concorrer à Presidência em 2022 contra Bolsonaro. Mas Boulos representaria a esquerda no poder.

Entre bolsonaristas, há quem defenda o voto “BolsoBoulos” –opção que não é tornada pública por políticos desse campo. O argumento é o de que um governo do PSOL teria menos apoio na Câmara e, portanto, não conseguiria implementar sua agenda e poderia até ser derrubado.

O influencer Paulo Kogos, atuante nas redes de direita, divulgou voto em Boulos de forma irônica e viralizou.

“Falei brincando, porque Boulos ia colocar sem-teto na casa do Doria. Vou anular, rezando para Boulos não ganhar”, diz à reportagem.

Representante da direita que rompeu com bolsonarismo, o senador Major Olímpio (PSL-SP), adversário de Doria, não declarou voto. A candidata derrotada do PSL em São Paulo, Joice Hasselmann, resolveu aderir a Covas.

A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), que também se descolou do bolsonarismo, diz que tem ouvido na direita relatos sobre três cenários. “Há direitistas, bolsonaristas ou não, que decidiram não votar, ou anular, ou votar em Boulos”, afirma.

“Alguns por não gostar do Covas, ou do PSDB. Outros para permitir a Boulos ter poder, não conseguir fazer nada e quebrar logo o encanto. Temem que Boulos siga a trilha de Lula, o que é bem provável”, afirma Janaina.

Ela fez uma “dobradinha” com Boulos nas redes sociais no início da semana, mostrando-se interessada em fazer uma live com ele para entender seus projetos. A campanha do PSOL ainda não respondeu ao convite.

Janaina afirmou que “não descarta nada” em relação a apoiar algum postulante. “Não acho que o meu papel seja apoiar A ou B, mas ajudar a discutir propostas.”

Maior representante do presidente em São Paulo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) tampouco declarou voto, mas, no Twitter, criticou Covas por ter posado em foto com Bolsonaro apesar de ter dito que não votou nele em 2018.

Também afirmou que “PT e PSDB são gêmeos siameses”, cobrou um amadurecimento da direita para evitar divisões internas e endossou a tese de fraude nas urnas.

O jornal Folha de S.Paulo revelou que Bolsonaro disparou mensagem de WhatsApp a pessoas próximas em que, como o filho, resgata a publicação de Covas ao youtuber Felipe Neto na qual o tucano afirma não ter votado no presidente.

Diante da repercussão, Covas afirmou que votou nulo por não ver em Bolsonaro “nenhum discurso que agregasse valores democráticos” e reiterou ter posicionamentos contrários aos do presidente.

Apesar de pautas municipais e propostas dominarem os debates entre Covas e Boulos, o candidato do PSOL tenta associar o adversário a Bolsonaro por causa do apoio de Russomanno e da antiga aliança entre Doria e o presidente.

Covas já afirmou que vai buscar “o voto de todo o mundo” no segundo turno. “Ninguém é dono de voto na cidade. O dono do voto é o eleitor.”

Boulos tampouco rejeita o voto bolsonarista. Questionado pela reportagem sobre a opção “BolsoBoulos”, riu.

“O nome que vocês dão imagino que seja uma piada. Mas ninguém é dono de voto. As pessoas, num segundo turno, votam entre duas opções, às vezes até naquele que elas consideram menos pior”, afirmou o candidato do PSOL.

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