Segundo artigo de Guga Chacra, do O Globo, os EUA, embora entendam os motivos para a viagem de um chefe de Estado ao seu principal parceiro comercial como a de Lula à China, sem dúvida ficaram irritados com a visita do presidente brasileiro à gigante de tecnologia chinesa Huawei e também com as declarações sobre o dólar. Mas o que Washington pode fazer? Punir o Brasil? Como?
O governo do presidente americano Joe Biden não tem ferramentas e tampouco interesse em adotar alguma forma de retaliação contra o Brasil. Basicamente, isso colocaria Brasília no colo de Pequim. O que os EUA precisam fazer é parar de ignorar a América do Sul para deixar de perder influência para a China no continente.
Faz quase dois anos e meio que Biden assumiu a Casa Branca e até agora não visitou nenhum país da América do Sul (e da África). Mesmo seu secretário de Estado, Antony Blinken, quase não dá importância para a região. Os americanos priorizam a Guerra da Ucrânia e a rivalidade com China.
Mas, caso queiram reduzir a influência global da China, os EUA precisam investir e apoiar mais lugares como a América do Sul. Note que o ultrademocrático Uruguai, governado pela centro-direita, pretende assinar um acordo de livre-comércio com a China. Seu presidente visitará Pequim logo depois de Lula. Mais uma derrota de Biden.
Qual a política externa de Biden para a América do Sul? Manter um certo apoio ao combate ao tráfico de drogas na Colômbia, impor sanções à Venezuela, barrar imigrantes e ficar com um discurso bonitinho de defesa do meio ambiente, embora pretenda destinar para a proteção da Amazônia apenas 1/2.000 de dinheiro enviado em ajuda militar, econômica e militar para a Ucrânia. Isso é ridículo.
Lula não se diferencia em nada de líderes da América do Sul, África e Oriente Médio — e mesmo de empresas americanas como a Tesla e a Apple — em buscar cada vez mais negócios na China. Assim como tampouco se diferencia na questão da Ucrânia, a não ser pela insistência em negociar uma paz que não ocorrerá — o que pode haver é um cessar-fogo no longo prazo, seguido por um armistício, e o Brasil tende a ter pouca importância na negociação.
Biden precisa urgentemente se aproximar da América do Sul. Devia viajar a Brasília, Bogotá, Santiago… Trump cometeu o mesmo erro, ao ignorar a região mesmo tendo um aliado como Jair Bolsonaro no poder. Não fez nenhuma concessão ao Brasil na época. O então presidente brasileiro, mesmo com um discurso anti-China, precisou se aproximar de Pequim. É inevitável, visto como os EUA ignoram a América do Sul enquanto a China prioriza a região.