Para um país de pequenas dimensões – pouco maior que o Estado brasileiro de Alagoas – a Bélgica foi palco de sangrentas disputas ao longo dos séculos.
Ocupada pela Alemanha durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, o país experimentou um boom econômico no período pós-guerra e se tornou um modelo de democracia liberal na Europa Ocidental.
A capital belga, Bruxelas, abriga a sede da União Europeia e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o que faz dela um centro poliglota de diplomatas de todo o mundo.
Como em outras partes no continente, de acordo com a CNN News, as tensões sociais têm ficado mais latentes. As linhas de separação são geográficas (norte, de língua holandesa, versus sul, francófono) e religiosas (comunidades seculares versus crescimento do extremismo islâmico entre as comunidades imigrantes).
Após as eleições de 2010, o país tardou 541 dias em formar um novo governo por causa de um impasse no parlamento.
Nas últimas décadas, a Bélgica tem sido forçada a revisitar sua história de violência colonial.
Um dos episódios mais infames foi a participação do governo belga na captura e execução de Patrice Lumumba, primeiro primeiro-ministro do Congo logo após sua independência da Bélgica, nos anos 1960.
FATOS
LÍDERES
Monarca: Rei Philippe
Philippe ascendeu ao trono em julho de 2013 após a abdicação de seu pai, Alberto 2º, por motivos de saúde.
O respeito à monarquia é um dos poucos fatores que ignoram divisões e permeiam a sociedade belga. Durante o impasse parlamentar de 2010-2011, o rei Alberto exerceu sua autoridade constitucional aconselhando as lideranças políticas e ajudando na formação do novo governo.
Em 2020, Philippe expressou “o mais profundo pesar” pelas “feridas”, “atos de violência e crueldade” da colonização.
“Este regime era um regime de relação desigual, em si injustificável, marcado pelo paternalismo, discriminação e racismo. Deu origem a abusos e humilhações,” afirmou.
Primeiro-ministro: Alexander De Croo
Alexander De Croo se tornou primeiro-ministro em 2020, após um impasse parlamentar entre partidos das regiões francesa e holandesa, que deixou o país sob um governo transitório por 16 meses. A Bélgica não tinha um governo constituído desde 2018.
De Croo, um ex-ministro da Fazenda, pertence ao partido liberal-democrata flamengo. Sua coalizão é composta por sete partidos de várias orientações, incluindo liberais, socialistas, verdes e democratas-cristãos.
Ele vem de uma família profundamente envolvida com a política e é autor de um livro sobre como o feminismo também liberta os homens.
MÍDIA
As TVs e rádios belgas espelham a variedade linguística e política do país. Mais do que as autoridades federais, cabe às comunidades linguísticas regulamentarem o setor de radiodifusão. Na prática, segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, o país possui dois mercados de mídia de pequena escala e eles praticamente não competem entre si.
RELAÇÕES COM O BRASIL
As relações entre o Brasil e a Bélgica datam da primeira metade do século 19. O Brasil imperial assinou um tratado de navegação com o reino belga em 1834.
Em 1920, segundo o Itamaraty, o rei Albert 1º foi o primeiro chefe de Estado estrangeiro a fazer uma visita ao Brasil.
As empresas belgas desempenharam um papel importante na industrialização brasileira, especialmente no setor siderúrgico. A antiga Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira (hoje Arcelor-Mittal) foi fundada em 1921.
A Bélgica é também um dos principais parceiros comerciais do Brasil na Europa, à frente de destinos importantes como a França e o Reino Unido.
Por causa da sua organização em regiões, as diferentes comunidades linguísticas estabeleceram contatos diretos com o Brasil. O governo regional da Valônia, por exemplo, tem um escritório da sua agência de promoção de exportação e investimentos (AWEX) em São Paulo.
Segundo o Itamaraty, estima-se que existam 48 mil brasileiros vivendo na Bélgica, sobretudo em cidades como Bruxelas, Bruges, Antuérpia e Gand.
LINHA DO TEMPO
Datas importantes na história da Bélgica:
1830 – Bélgica se declara independente da Holanda.
1914-18 – Primeira Guerra Mundial e primeira ocupação alemã. Exército belga mantém algumas posições até 1918.
1930 – Flandres e Valônia tornam-se legalmente regiões unilíngues, com o holandês e o francês como língua oficial, respectivamente.
1940-45 – Segunda Guerra Mundial e nova ocupação alemã.
1958 – Bélgica, Holanda e Luxemburgo formam a União Econômica Benelux para promover a livre circulação de trabalhadores, bens e serviços na região.
1960 – O governo belga concede a independência ao Congo, que vira a República Democrática do Congo. Governo do país se envolve na captura e assassinato do primeiro líder do país, Patrice Lumumba.
1962 – Independência para Ruanda-Urundi, que se tornam Ruanda e Burundi.
1992 – A Bélgica ratifica o Tratado de Maastricht sobre a União Europeia.
1993 – Constituição é alterada para reconhecer a divisão do país em três regiões administrativas: Flandres (holandesa), Valônia (francófona) e Bruxelas (bilíngue).
2002 – Euro substitui o franco belga.
2016 – Atentado do autoproclamado Estado islâmico em Bruxelas mata 35 pessoas e deixa mais de 300 feridas.
2020 – Por ocasião dos 60 anos de independência do Congo, o rei Philippe expressa o seu “pesar” pela violência e exploração durante o período colonial. Analistas estimam que os assassinatos, trabalhos forçados e outras formas de brutalidade mataram 10 milhões de congoleses.
2020 – Alexander De Croo forma uma coligação de sete partidos, pondo fim a um período de governos interinos desde 2018.