Conhecido pela profusão de caciques e pela falta de unidade — empecilhos para o diálogo com o governo Lula (PT) —, o União Brasil também acumula conflitos internos e desentendimentos com governadores, mesmo sendo contabilizado na base em 21 dos 27 estados. Além da pressão por cargos, valendo-se do tamanho de suas bancadas, lideranças egressas dos extintos DEM e PSL disputam segundo Bernardo Mello, do O Globo, protagonismo em seus redutos após a fusão que deu origem ao União. Sem coesão, o partido já projeta novos entraves no relacionamento com o Palácio do Planalto após oficializar a nomeação do deputado Celso Sabino (União Brasil-PA) no Ministério do Turismo.
Em São Paulo, onde integra a base do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o União ameaça barrar pautas do governo na Assembleia Legislativa (Alesp) em meio a reclamações por espaço. Tarcísio resiste a entregar à sigla a presidência da Companhia de Desenvolvimento Habitacional Urbano, pleiteada pelo grupo do vereador Milton Leite, influente no antigo DEM. O diretório estadual do partido está a cargo de Antonio Rueda, braço direito do presidente nacional da sigla, Luciano Bivar. Com influência além de São Paulo, Rueda também participa de conversas por cargos na gestão e, a interlocutores, sinaliza que a relação no estado pesará num eventual apoio do partido a uma candidatura presidencial de Tarcísio.
No Rio, Rueda indicou postos no Detran e no Rioprevidência na gestão do governador Cláudio Castro (PL), além de ter conquistado a Secretaria de Habitação do prefeito da capital, Eduardo Paes (PSD). Sem emplacar suas próprias indicações, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, que presidia o diretório estadual do União, decidiu migrar para o Republicanos. Na briga com Rueda, e antes de deixar o cargo, ele autorizou a desfiliação de seis deputados do União Brasil. O caso está na Justiça Eleitoral.
Disputas no partida — Foto: Infoglobo
“Diversas tendências”
No Ceará, o governador Elmano de Freitas (PT) vem se aproximando de parlamentares do partido, sob resistência do ex-deputado Capitão Wagner (União Brasil-CE), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Hoje sem mandato, Wagner se abrigou na gestão do prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, que o nomeou como secretário municipal de Saúde; sua mulher, a deputada federal Fernanda Pessoa (União Brasil-CE), é um dos nomes que se aproximam da gestão petista.
— Dentro do União Brasil há diversas tendências. Alguns parlamentares são mais alinhados ao governo federal, outros são de oposição. O União saiu grande das urnas em 2022, atrás só de PT e PL, o que torna o partido importante tanto para alianças eleitorais quanto para garantir a governabilidade — avalia o senador Efraim Filho (União Brasil-PB).
Efraim emplacou um aliado, Irlen Guimarães Filho, na Superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) em João Pessoa. Apesar da aproximação com o governo Lula, o União faz oposição na Paraíba ao governador João Azevêdo (PSB), aliado do Planalto.
O senador avalia que a troca no Turismo, costurada por Lula com lideranças do União no Congresso, “influencia pouco” o partido como um todo. Após a fusão entre DEM e PSL, o União teve seu comando pulverizado em nacos de poder para caciques regionais, com interesses distintos.
Reforma foi aprovada em dois turnos nas votações que ocorreram na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Em Pernambuco, reduto de Bivar, ex-presidente do PSL e hoje à frente do União Brasil, seus dois colegas de bancada na Câmara, Mendonça Filho e Fernando Coelho Filho, ambos egressos do DEM, defendem uma postura de oposição ao PT. Bivar, por sua vez, emplacou cargos no primeiro escalão das gestões da governadora Raquel Lyra (PSDB) e do prefeito do Recife, João Campos (PSB), que estão em campos opostos, e também vem sendo consultado sobre indicações no governo Lula, embora classifique o partido como “independente”.
Rixa entre caciques
Às vésperas da votação da Reforma Tributária, Bivar divulgou um comunicado, subscrito por 38 dos 59 deputados do União, solicitando a retirada de pauta do projeto, o que irritou outro cacique da sigla, o deputado Elmar Nascimento (BA). Momentos antes, o Palácio do Planalto havia adiado a substituição no Ministério do Turismo, o que contrariou Bivar. Nascimento, por outro lado, se alinhou ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que articulava a votação antes do recesso parlamentar.
O incêndio só foi contornado porque o Planalto, no mesmo dia, confirmou publicamente que Sabino seria nomeado, o que fez a bancada votar majoritariamente a favor da reforma. O deputado José Rocha (União Brasil-BA), um dos signatários da nota, minimizou as idas e vindas ao confirmar que a causa foi o “problema” envolvendo Sabino.
— Foi, sim. Mas logo foi resolvido.