Os bancos brasileiros estão ligeiramente mais otimistas com o crescimento do crédito este ano, mas esse otimismo vem da expectativa de uma atuação mais ampla dos bancos públicos. A percepção é da Pesquisa Febraban de Economia Bancária e Expectativas, divulgada nesta última sexta-feira (24).
O levantamento aponta uma projeção de crescimento de 8,3% do crédito no País neste ano, ante os 8,2% captados na rodada da pesquisa realizada em dezembro do ano passado. O crescimento vem do crédito direcionado: espera-se alta de 8,4% em 2023, ante os 7,7% esperados em dezembro.
Neste tipo de operação, em que o recurso tem um “carimbo” específico, as projeções subiram tanto entre pessoas jurídicas (de 5,8% para 7,1% em dois meses) quanto entre pessoas físicas (de 8,6% para 9,2%), de acordo com a entidade.
O crédito direcionado inclui, por exemplo, financiamentos imobiliários ou programas de crédito lançados pelo governo para empresas de pequeno e médio portes.
“No caso da carteira direcionada, uma explicação possível é a possibilidade de termos uma maior atuação dos bancos públicos no novo governo no mercado de crédito”, diz em nota Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban.
Ele emenda que uma outra explicação possível é de que diante dos juros mais altos nos empréstimos livres e da menor atividade do mercado de capitais, a demanda por programas direcionados cresça entre as empresas.
Isso ajuda a explicar a redução nas projeções para o crédito livre, que caíram de alta de 8,6% para alta de 8,2% entre uma rodada e outra da pesquisa. Entre pessoas jurídicas, a projeção recuou de 8,3% para 7,3% de alta; entre pessoas jurídicas, caiu de alta de 10,1% para alta de 8,7% neste ano em relação a 2022.
“Há uma expectativa de desaceleração econômica devido à inflação elevada, juros altos e um cenário externo mais desfavorável, ainda com muitas incertezas”, acrescenta Sardenberg.
No caso do crédito a empresas, a pesquisa de fevereiro é a primeira realizada após o caso Americanas, que colocou o crédito livre a empresas e fornecedores sob lupa nos bancos. As instituições tratam a debacle da varejista como um caso isolado, mas têm restringido a concessão de crédito a determinados clientes pessoas jurídicas, como mostrou na quinta-feira (23) o Broadcast/Estadão, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A pesquisa da Febraban é realizada a cada 45 dias, e capta, entre outros pontos, as expectativas para o crédito e a leitura dos bancos sobre a ata da reunião mais recente do Copom.
A rodada de fevereiro foi realizada entre os dias 8 e 14 deste mês, com 19 dos maiores bancos do País.