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segunda-feira 18 de março de 2024 às 06:46h

Banco Central da Alemanha confronta passado nazista

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Sucessor do Reichsbank, Bundesbank encomendou estudo abrangente que deixou claro que a instituição ajudou a financiar armamentos para a guerra e esteve envolvida no confisco e venda de bens de judeus. O Deutsche Bundesbank, o Banco Federal da Alemanha, lançou luz sobre suas raízes nazistas em um estudo publicado na última sexta-feira (15) e prometeu que nunca mais permitirá ser usado de forma semelhante.

A instituição, equivalente ao Banco Central brasileiro, divulgou detalhes de como o Reichsbank, antecessor do Bundesbank, financiou os esforços de guerra do regime de Adolf Hitler e esteve envolvido na exploração, expropriação e confisco de bens e dinheiro.

O Bundesbank encomendou um estudo abrangente sobre a história dos bancos centrais na Alemanha entre 1924 e 1970. Os resultados mostram que o Reichsbank desempenhou um papel significativo no funcionamento do regime nazista entre 1933 e 1945.

O banco ajudou a financiar armamentos para a guerra e permitiu a exploração financeira dos territórios ocupados pela Alemanha, bem como o registo e processamento de bens apreendidos. Os investigadores descobriram que o banco estava profundamente envolvido no confisco, expropriação e venda de bens judeus.

O Reichsbank chegou a movimentar ouro e moeda estrangeira retirados dos assassinados nos campos de concentração e extermínio.

“O Reichsbank agiu como um fantoche voluntário e receptor de bens roubados no contexto do Holocausto financeiro”, disse Albrecht Ritschl, professor de história econômica na London School of Economics, um dos dois principais historiadores contratados para realizar o estudo.

O que o Bundesbank aprendeu com o passado?

Após a Segunda Guerra Mundial, ex-funcionários do Reichsbank que haviam sido “desnazificados” foram contratados – primeiro pelo sucessor inicial do Reichsbank, fundado em 1948, o Bank deutscher Länder, e depois no Bundesbank, após a sua criação em 1957.

Muitos gestores intermédios do Reichsbank foram mantidos, refletindo a situação em muitas das instituições públicas sucessoras da Alemanha após a guerra.

“O grau de continuidade em termos do que poderíamos chamar de elite funcional está, portanto, no mesmo nível daquele observado em ministérios e outras instituições públicas”, disse o coautor Magnus Brechtken, do Instituto de História Contemporânea de Munique.

No entanto, o estudo concluiu que não houve continuidade no que diz respeito à própria instituição, com nenhum dos novos bancos sendo sucessores legais do Reichsbank. Todo o ouro do Reichsbank foi confiscado pelos Aliados e as atuais participações em ouro do Bundesbank são o resultado de excedentes que a Alemanha registou desde a década de 1950.

“O próprio Bundesbank procurou refletir criticamente sobre o passado”, disse o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, na coletiva de imprensa em que os acadêmicos apresentaram as conclusões do estudo.

“O que faltava até agora, porém, era uma visão geral da política do banco central alemão antes, durante e depois da Segunda Guerra Mundial”, explicou Nagel. “Essa é uma imagem que temos agora”, acrescentou.

Nagel disse que os pesquisadores forneceram “um tesouro de insights e descobertas” que serão totalmente disponibilizados ao público em breve.

“O estudo mostra como os banqueiros centrais se tornaram cúmplices voluntários de um regime criminoso”, afirma Nagel. “Isso mostra o quão suscetíveis eles eram ao racismo, ao antissemitismo e ao pensamento antidemocrático”.

“As minorias nunca mais deverão ser excluídas e sujeitas à tirania estatal. Nunca mais deverão ser permitidos aos órgãos governamentais como o banco central pisotear os valores democráticos”, concluiu.

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