“A guerra virtual entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro produziu um racha também na cúpula petista. Com o segundo turno da corrida eleitoral ganhando tração na internet, uma divergência que existe desde o início da campanha pelo controle das redes sociais do ex-presidente virou uma espécie de rebelião interna.
Uma ala da campanha questiona o domínio absoluto da mulher de Lula, Rosângela da Silva, a Janja, e do fotógrafo oficial do petista, Ricardo Stuckert, sobre o que é publicado nas redes sociais do candidato ao Planalto.
Fazem parte da tropa de insatisfeitos o marqueteiro Sidônio Palmeira e parte da equipe de redes sociais, além do próprio coordenador de comunicação, Edinho Silva, e do deputado André Janones (Avante-MG),
Na reunião que abriu caminho para que Janones reforçasse o Facebook de Lula, como relatamos na última quarta-feira, Edinho Silva avaliou em tom de alerta que as redes sociais são o principal campo de batalha deste segundo turno e defendeu mudanças de estratégia.
O entendimento na cúpula é de que as redes sociais de Lula têm menos alcance e engajamento do que as de Bolsonaro, e isso se dá em parte pela gestão do conteúdo – muito centralizado nas mãos de Janja e Stuckert e com posts mais institucionais e com filtros.
Quem defende as mudanças avalia que é necessário dinamizar e diversificar os materiais publicados nas plataformas, como Janones defendeu na sua primeira reunião com Lula.
A concentração das redes sob o comando de Janja e Stuckert tem incomodado aliados preocupados com a supremacia bolsonarista nas redes, com alto engajamento. O cálculo é que o PT não consegue reproduzir a espontaneidade das redes pró-Bolsonaro, cujo caráter orgânico e célere é tido como essencial para se multiplicar e, por consequência, furar a bolha.
Uma das pessoas que defende uma inflexão, e que não integra formalmente a campanha petista, resume: “Não queremos conflito. Mas Janja e Stuckert sozinhos não vão conseguir ampliar o engajamento apenas com imagens de artistas e fotos dignas de prêmios. O conteúdo para redes sociais pode e deve ser mais rústico e intimista. Não precisamos só desmentir as fake news, mas para furar a bolha”.
A equipe da coluna de Ricardo Antunes, afirma que procurou Edinho Silva, coordenador de comunicação da campanha de Lula, mas não recebeu retorno até o fechamento da reportagem.
Em meio ao cabo de guerra, políticos aliados ao ex-presidente até lançaram, no início desta semana, uma espécie de “guia de regras” para estabelecer uma rede espontânea de seguidores do PT. Mais do que driblar a hegemonia sobre as redes, o documento traz uma discussão de segundo plano na campanha de Lula: a linguagem.
O manual é destinado a influenciadores e usuários comuns. A elaboração ficou por conta de Manuela D’Ávila (PCdoB), vice de Fernando Haddad em 2018, do deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP) e do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
Ao longo de 17 páginas, o “Guia prático para eleger Lula”, distribuído no formato PDF, dá instruções objetivas quanto a diferentes frentes de atuação nas redes – como, por exemplo, virar votos, defender o legado dos governos do PT e desmentir fake news, bem como estimular influenciadores e “micro influenciadores” a trabalharem pela eleição de Lula”.
Por Ricardo Antunes