Agência europeia relata alta preocupante nos pedidos de proteção em 2022, que já passam de 5 milhões. Números trazem ecos da crise migratória de 2015 e ameaçam sobrecarga nos sistemas nacionais.O número de pessoas em busca de proteção internacional na Europa em 2022 atingiu níveis não vistos desde a crise migratória de 2015, quando mais de um milhão de pessoas chegou ao continente fugindo de conflitos, perseguições e da pobreza.
A Agência da União Europeia para o Asilo (EUAA) informou nesta quarta-feira (09/11) que, segundo os dados mais recentes disponíveis, somente no mês de agosto, em torno de 84,5 mil pessoas pediram asilo nos 27 países da UE, assim como na Noruega e na Suíça.
Quase um terço dos requerentes eram do Afeganistão e da Síria. Segundo a agência, também aumentou o número de pedidos feitos por marroquinos, turcos e indianos, assim como de pessoas de Bangladesh, Paquistão, Tunísia e Georgia.
Outros 255 mil, na maioria ucranianos, requereram alguma forma de proteção temporária, o que representa um aumento de 16% em relação ao mês de julho.
“Colocados juntos, os pedidos de asilo e de proteção temporária ultrapassaram 5 milhões em 2022, até agora”, informou a EUAA. A agência alertou que os dados sinalizam um risco de sobrecarga nos sistemas nacionais.
Em agosto, os pedidos de asilo feitos por afegãos e sírios aumentaram em torno de 30% em comparação a julho. Desde a tomada do poder pelo Talibã no Afeganistão, em agosto de 2021, foram 127 mil requisições encaminhadas por afegãos junto às autoridades europeias.
O número de crianças que viajaram sozinhas ou pediram proteção na Europa – na maioria afegãs ou sírias – também cresceu exponencialmente em agosto, para 4,7 mil, o que representa um aumento de 28% em relação a julho.
O terceiro maior grupo de requerentes de asilo veio da Turquia, país que nos últimos sete anos recebeu bilhões de euros em financiamentos europeus para ajudar a impedir a entrada de migrantes através das fronteiras da UE. Em agosto, foram 4,6 mil pedidos de asilo feitos por cidadãos turcos.
Ecos da crise de 2015
A EUAA diz que os números de agosto representam em torno da metade do registrado no final de 2015, quando os registros mensais chegavam a 170 mil.
A chegada em massa de refugiados sírios, na maioria dos casos, através das ilhas gregas, exacerbou a capacidade dos centros de acolhimento europeus e deu início a uma das maiores crises políticas da Europa. Os Estados-membros discutiram extensivamente quais países teriam maiores responsabilidades sobre os migrantes e de que forma os demais deveriam ajudar.
Mas, apesar das discussões, não foram encontradas soluções concretas, e as tentativas de reformar o sistema de asilo da UE não obtiveram progressos significativos, esbarrando na resistência de países como Hungria e Polônia.
Ainda persistem os desentendimentos entre os políticos europeus, com alguns países – como Itália e Holanda – sob forte pressão das entidades de direitos humanos em razão dos maus tratos dados aos migrantes em busca de asilo.