Criticado por partidos da oposição desde que foi escolhido em setembro do ano passado, o procurador-geral da República, Augusto Aras, passou a ser elogiado por parlamentares de partidos como PT e PSOL devido a seus ataques contra a Operação Lava Jato. Desde que Aras afirmou, na última terça-feira, que a força-tarefa mantém dados sigilosos, parlamentares da oposição passaram a pedir que se investiguem se os procuradores de Curitiba mantém dados em sigilo.
Segundo Aras, a força-tarefa estaria mantendo um banco de dados próprio, com informações de 38 mil pessoas, fora do alcance da Corregedoria do Ministério Público Federal (MPF). Aras também criticou os custos para manter a força-tarefa e falou em “corrigir os rumos para que o lavajatismo não perdure”.
O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) defendeu a investigação de “todas as práticas ilegais, imorais e politicamente dirigidas por parte da operação” Lava Jato. “O que tem que prevalecer é a verdade. Os procuradores da Lava Jato não são intocáveis, eles precisam ser investigados. Se a Lava Jato agiu certo e não tem medo dos seus métodos, é só abrir os dados”.
Embora defenda a investigação, Valente questionou o interesse de Aras e do governo Bolsonaro no caso: “Aras é um cara do Bolsonaro. Ele certamente tem os objetivos dele, à serviço de Bolsonaro, que não são mais os mesmos do Moro, que era um dos pilares de sustentação do governo”, afirmou.
Já o deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) defende a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a operação Lava Jato.
“Não é uma especulação qualquer. É o Procurador Geral da República, é o chefe do Ministério Público Federal, dizendo que a Lava Jato criou uma milícia judicial, que dispõe de informações sobre 38 mil brasileiros. (…) Essa milícia judicial dispõe de algum respaldo legal para criar um banco de dados para potenciais investigados? Por que essas informações estão em um sistema paralelo que a PGR não tem acesso, que as corregedorias não tem acesso?”, questiona o deputado em vídeo publicado em suas redes.
Embora o lavajatismo seja defendido por um grupo de parlamentares, em geral a classe política se incomoda com a força-tarefa. Na última quarta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) afirmou que vê excessos em investigações e defendeu a legitimidade de Aras para criticar a operação.
“Está se fazendo buscas e apreensões de coisas de 2010 em 2020. Coisas que geram apenas constrangimento, na linha até do que o doutor Aras falou de criar uma criminalização generalizada da política, tirar as condições da política e do próprio Supremo”, disse Maia.
A base governista também defendeu o posicionamento do PGR. “Por que há tanto medo, dentro da força-tarefa de Curitiba, de que o Aras investigue o que eles estão fazendo?”, disse a parlamentar: “O que o Aras quer saber é: dentro desses dados todos, dessas 38 mil pessoas, desses 350 terabytes que vocês têm, por que há praticamente uma PGR paralela?”, afirma a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP).