A manifestação deste domingo na Avenida Paulista, convocada por Jair Bolsonaro (PL) em meio a investigações da Polícia Federal (PF) sobre supostas investidas golpistas, contou com o maior número de apoiadores do ex-presidente desde as eleições de 2022. O cálculo é do grupo de pesquisa Monitor do Debate Político, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, coordenado por Pablo Ortellado e Márcio Moretto, que compila dados do gênero desde setembro daquele ano.
Desde então, este é o sexto ato bolsonarista com presença estimada pelo mesmo método utilizado pelos pesquisadores. Os 185 mil manifestantes que foram à Paulista neste domingo superaram o ato pelo Dia da Independência na Praia de Copabacana, no Rio, em setembro de 2022, quando foram contabilizados 64,6 mil presentes.
O grupo produziu imagens aéreas entre 15h, horário de chegada de Bolsonaro à Avenida Paulista, e 17h, quando ele terminou de discursar, contabilizando o público no local com o auxílio de um software. Às 17h, a metodologia resultou na contabilização de cerca de 45 mil pessoas. A estimativa de 185 mil presentes, porém, é do pico da manifestação, justamente por volta das 15h, quando Bolsonaro cruzou a multidão até subir ao trio elétrico.
De acordo com o Monitor, foram tiradas 43 fotos da Paulista, e 11 delas foram selecionadas de modo a cobrir toda a extensão da avenida, sem sobreposição. Em seguida, cada imagem foi repartida em oito partes, sendo aplicada uma implementação do método Point to Point Network (P2PNet), que identifica cabeças e estima a quantidade de pessoas em uma fotografia — análise similar à realizada nas ocasiões anteriores.
No Sete de Setembro de 2022, o então presidente transformou o feriado em um ato de campanha e fez o principal discurso no palanque montado na Praia de Copacabana. O tom da fala de Bolsonaro foi de ataques à esquerda, ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a governos de outros países. No mesmo dia, ele também passou pela Avenida Paulista, onde falou para um público bem menor do que o deste domingo: 32,7 mil pessoas, segundo o Monitor do Debate Político.
Em 2 de novembro de 2022, 30,7 mil apoiadores do ex-presidente reuniram-se em frente ao Comando Militar do Sudeste, na Zona Sul de São Paulo, com orações, pedidos de intervenção militar e promessa de “ninguém soltar a mão de ninguém”. A manifestação teve base em uma interpretação do artigo 142 da Constituição. Os presentes também pediram anulação da eleição presidencial, com o argumento de que Lula, que vencera a disputa dias antes, não poderia ter concorrido.
Após a morte de Cleriston Pereira, réu pelos atos golpistas de 8 de janeiro, em Brasília, houve mais uma manifestação bolsonarista no dia 26 de novembro de 2023, que reuniu 13,3 mil pessoas na Avenida Paulista. Segundo a Vara de Execuções Penais, Cleriston sofreu um mal súbito durante o banho de sol no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.
A manifestação mais recente antes do ato deste domingo na Paulista foi contra a indicação do agora ministro do STF, Flávio Dino. O protesto, realizado no último 26 de novembro, reuniu 5,6 mil bolsonaristas, com adesão abaixo das registradas em manifestações promovidas anteriormente.
Na época, os protestos ficaram marcados pela ausência de alguns parlamentares bolsonaristas, que acompanhavam o ex-presidente no evento da posse de Javier Milei, eleito presidente na Argentina. Já um grupo de senadores da direita chegou a participar dos dois atos, na capital federal pela manhã e na Avenida Paulista, à tarde.