O ato convocado para o próximo domingo (21), em Copacabana (RJ), em apoio a Jair Bolsonaro (PL) terá como objetivo retrucar a ideia de envolvimento dele com a “minuta do golpe” –que embasa uma das linhas de investigação da PF (Polícia Federal) contra o ex-presidente.
Para aliados, o episódio recente que pôs em lados opostos o empresário Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), e o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), deve se tornar combustível para a mobilização da manifestação política.
O clima, desta vez, é outro. Para interlocutores de Bolsonaro, ele está menos pressionado em comparação com o momento em que houve o ato na avenida Paulista, em fevereiro.
Primeiro, pela distância temporal de operações da PF e desgastes no Judiciário. Segundo, porque há o que chamam de aumento de críticas na sociedade civil à atuação de Moraes, em especial impulsionadas na esteira do caso de Musk.
Ainda que o empresário não tenha brigado com o ministro do STF por causa do ex-presidente, o episódio foi visto por aliados como uma vitória para Bolsonaro e sua militância, por desgastar Moraes.
A grande preocupação no ato do dia 21, segundo organizadores, será tentar desfazer o que eles chamam de “maior fake news da história”: a minuta de golpe.
A PF investiga documentos que buscavam embasar juridicamente um golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022, por meio de decretação de estado de sítio ou GLO (Garantia da Lei e da Ordem).
“Será uma continuação do que foi a Paulista”, disse o deputado Sóstenes Cavalcanti (PL-RJ), em referência ao ato de fevereiro.
Naquela ocasião, Bolsonaro disse, em seu discurso, buscar a pacificação do país e pediu anistia aos presos pelo ataque golpista de 8 de janeiro de 2023. A estratégica mudou para a próxima manifestação.
“Agora vamos focar nessa suposta minuta do golpe. A gente está achando que o enredo da minuta, essa grande fake news, conseguiu chegar na boca do povo”, afirmou. “Até o nosso pessoal começou a escrever ‘minuta de golpe’. Sinal de que colou. Mas nunca existiu isso”, completou.
A linha de defesa reforçada nos discursos de domingo será a mesma que Bolsonaro vem usando nos últimos meses: não há golpe se as possibilidades aventadas estão previstas na Constituição; e o texto sequer foi implementado. Ficou só no campo das ideias, e isso não é crime, dizem.
“Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência”, disse o ex-presidente no ato de fevereiro.
A apuração da PF sugere que o entorno de Bolsonaro elaborou textos legais e fez reuniões com intuito de impedir a posse do então eleito Lula (PT). A trama culminou com os ataques golpistas às sedes dos três Poderes em 8 de janeiro do ano passado.
O que aliados do ex-presidente querem é tirar do léxico bolsonarista o termo “minuta de golpe” –o que, para eles, reforça a tese dos investigadores. “Vamos desmistificar essa fake news”, diz o pastor Silas Malafaia, organizador do ato.
O religioso será um dos oradores. Também discursarão a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os deputados Marco Feliciano (PL-SP), Nikolas Ferreira (PL-MG), e os senadores Magno Malta (PL-ES) e Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Como no ato anterior, foram convidados governadores de direita: Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Jorginho Mello (PL-SC) e Romeu Zema (Novo-MG).
Dois que não estiveram na Paulista são esperados: Cláudio Castro (PL-RJ) e Ratinho Jr (PSD-PR). Eles poderão discursar, se quiserem, segundo Malafaia.
Como mostrou a Folha, o evento deve ser usado para ampliar a exposição do deputado federal Alexandre Ramagem (PL), pré-candidato à prefeitura da cidade. Ele não discursará, mas terá papel de destaque ao lado de Bolsonaro, seu principal cabo eleitoral.
O ato ocorrerá nos mesmos moldes do evento em São Paulo. A expectativa é que dure uma hora e meia. Além disso, serão usados dois carros de som: só um com microfone e o outro levará parlamentares aliados. Faixas e cartazes serão proibidos, assim como ataques diretos ao STF.
A expectativa dos organizadores é que a manifestação seja menor do que a de São Paulo, por não ser a primeira e porque o Rio é uma cidade menor do que a capital paulista.
A atmosfera desta vez também é diferente. Em fevereiro, o ato foi convocado dias depois de uma operação que apreendeu o passaporte do ex-presidente. Agora, Bolsonaro está viajando em clima de campanha eleitoral pelo país.
Na última vez, interlocutores do ex-presidente entraram em contato com ministros da corte para prometer um ato sem ataques. Desta vez, eles não veem necessidade de conversa.
Além disso, o embate com Musk é visto como uma vitória para a militância bolsonarista. O empresário ameaçou desbloquear contas suspensas pela Justiça e xingou Moraes de “ditador”.
“Episódio do Elon Musk é combustível para o ato, até mesmo porque ele é defensor da liberdade, independentemente de quem ele seja, deixou de ser ou vai ser. É uma pessoa que está se colocando do lado certo da história, e com certeza vai ser mencionado lá no ato”, disse Nikolas Ferreira.
O deputado adiantou que, em seu discurso, vai tratar “do que está acontecendo no país”, pedir para os apoiadores se manterem firmes e falar de “liberdade em redes sociais”.
No último ato, o custeio coube apenas a Malafaia. Agora, cerca de 25 deputados e senadores vão desembolsar milhares de reais para alugar a estrutura de carros de som e telões no domingo.