Confira o artigo de Robson Wagner, CEO da W4 Comunicação e diretor de desenvolvimento da ABAP-BA no jornal A Tarde
Quando um prefeito assume o mandato, é comum observar uma atenção minuciosa na escolha dos titulares das secretarias de Fazenda, Saúde, Educação e outras áreas estratégicas. No entanto, algo curioso e preocupante ocorre em relação ao departamento de comunicação: muitos gestores relegam sua importância ou tratam sua escolha com descaso.
No cenário atual, em que a informação circula em tempo real e as pessoas estão cada vez mais conectadas, essa negligência pode se transformar em um erro fatal para a gestão pública. A comunicação não é apenas um setor de suporte; ela é a voz da gestão. É por meio dela que as ações do governo chegam ao conhecimento da população, que os resultados são apresentados e que se cumpre um dos pilares constitucionais da administração pública: a transparência na aplicação do dinheiro público.
Comunicação: um pilar indispensável da gestão pública
Nos dias de hoje, a comunicação transcende o simples ato de informar. Ela constrói percepções, estabelece conexões e fortalece a confiança entre o governo e os cidadãos. Ignorar ou minimizar seu papel é colocar em risco não apenas a imagem da gestão, mas também sua capacidade de dialogar eficazmente com a população.
A comunicação institucional é o fio condutor que transforma ações em resultados tangíveis aos olhos do público. Uma obra finalizada, por exemplo, não basta por si só: é preciso mostrar o impacto que ela terá na vida das pessoas. Um programa de saúde que salva vidas só será valorizado se a população souber que ele existe.
Apesar disso, muitos gestores ainda consideram caro investir em comunicação. Preferem se limitar às redes sociais, muitas vezes de forma orgânica e desestruturada, subestimando a necessidade de uma estratégia abrangente, planejada e profissional.
Sustentando governos e planejando o futuro
Em um país onde boa parte dos gestores, já no primeiro dia de governo, começa a pensar na reeleição, a comunicação desempenha um papel estratégico crucial. É ela que sustenta um governo e constrói, ao longo do tempo, uma narrativa capaz de convencer o eleitorado de que o gestor merece continuar.
Além disso, a comunicação é essencial para alinhar a administração pública. Muitas vezes, os próprios integrantes do governo não sabem para onde a gestão está indo ou quais são suas bandeiras. Esse descompasso gera confusão e desarticulação, dificultando a entrega de resultados.
Um governo pode ser comparado a um corpo humano, no qual cada secretaria desempenha uma função específica, mas todas precisam trabalhar em harmonia para garantir o bem-estar do todo. A comunicação é o sistema nervoso que conecta e orienta cada órgão, promovendo uma visão clara das metas e assegurando que as ações sejam compreendidas pela população. Essa articulação é ainda mais importante porque, em muitas situações, as ações passam pela transversalidade, exigindo integração e cooperação entre diferentes setores.
Pesquisas constantes e análise preditiva: a bússola da gestão
Outro elemento indispensável para uma comunicação eficaz é a realização de pesquisas constantes de satisfação, tanto da população quanto dos colaboradores. Entender o que as pessoas pensam, sentem e esperam do governo é essencial para ajustar estratégias, corrigir rumos e melhorar a percepção pública.
Além disso, a análise preditiva é uma ferramenta poderosa que pode transformar a gestão. Baseada em dados históricos e inteligência artificial, ela permite prever tendências, identificar riscos e antecipar problemas antes que se tornem crises. Por exemplo, ao monitorar indicadores de aprovação, a análise preditiva pode ajudar a direcionar campanhas de comunicação para áreas específicas que precisam de mais atenção.
Redução de custos em campanhas eleitorais
Manter a gestão com um alto ou bom índice de aprovação não é apenas uma meta política; é também uma estratégia de economia. Uma gestão bem avaliada e com uma comunicação consistente reduz consideravelmente os custos da próxima campanha eleitoral.
Isso evita que, nos três meses que antecedem as eleições, o governo precise “correr atrás” para explicar tudo o que foi feito ao longo dos anos e não comunicado. A pressa para convencer o eleitorado de última hora é sempre mais cara, menos eficiente e, muitas vezes, ineficaz.
A necessidade de uma agência especializada
Para alcançar esse nível de eficiência, não basta contar com uma equipe que apenas desenvolva peças gráficas. É fundamental ter uma agência de publicidade especializada em gestão pública, capaz de compreender as complexidades da administração e de traduzir ações governamentais em mensagens claras e impactantes.
Não se engane acreditando que qualquer pessoa, por mais dedicada que tenha sido durante a campanha, será capaz de conduzir o “eixo central” do governo, que é a comunicação. A dinâmica de uma campanha é completamente diferente da administração pública. Conduzir a comunicação de uma gestão exige planejamento estratégico, visão ampla e uma abordagem profissional que vá além do improviso e do esforço individual.
Essa agência precisa ir além da criação de artes: deve entender de planejamento estratégico, participar das decisões e atuar como parceira ativa da gestão. Deve ter expertise em comunicação integrada, alinhando esforços entre secretarias e garantindo que o governo fale com uma só voz.
Conclusão
Num mundo conectado e em constante transformação, a comunicação deixou de ser uma peça acessória e tornou-se o motor de qualquer gestão pública. Prefeitos que não percebem isso correm o risco de administrar no silêncio, deixando de mostrar resultados e de criar uma conexão genuína com seus cidadãos.
Se “guardar segredo” já foi uma estratégia de governo em outros tempos, hoje é um atalho para o fracasso. Comunicação é transparência, é estratégia, é investimento — e, talvez, o departamento mais importante de uma prefeitura. Afinal, quem não comunica, não governa.