Bombardeio teria atingido campo de desabrigados na Faixa de Gaza. Israel diz ter atacado “alvos legítimos”. Mediadores temem que incidente possa minar esforços de paz. Um ataque aéreo na noite deste último domingo (26) deixou dezenas de mortos em um campo de desabrigados próximo à cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, em um incidente que pode minar os esforços internacionais por um cessar-fogo no enclave palestino.
A Defesa Civil de Gaza, administrada pelo grupo extremista Hamas, afirmou que o bombardeio matou ao menos 40 pessoas e deixou 65 feridos. Segundo a organização, a maioria das vítimas era de mulheres e crianças.
Uma das principais autoridades da Defesa Civil, Mohammad al-Mughayyir, chamou o incidente de “massacre” e descreveu um cenário terrível à agência de notícias AFP. “Vimos corpos queimados e membros mutilados […] vimos casos de amputações, crianças mulheres e idosos feridos.”
Ele afirmou que os esforços de resgate enfrentam enormes obstáculos. “Há escassez de combustíveis, estradas foram destruídas, o que impede a movimentação dos veículos da Defesa Civil nas áreas atingidas”, relatou. “Há também falta de água para extinguir os incêndios.”
As informações não puderam ser confirmadas por meios independentes.
“Nenhum lugar é seguro”
A entidade médica Sociedade Crescente Vermelho da Palestina (PRCS) relatou em postagem na rede social X que “inúmeras” indivíduos foram mortos e feridos no ataque ocorrido na região a noroeste de Rafah.
Os médicos relataram que os ataques aéreos atingiram barracas que abrigavam um grande número de pessoas que haviam sido desalojadas de outras regiões do enclave devido à ofensiva israelense ao território, que teve início após os ataques terroristas do Hamas em Israel, em 7 de outubro do ano passado.
A PRCS afirma que o ataque aéreo atingiu uma zona humanitária designada para as pessoas que foram forçadas a deixar de Rafah após o início das investidas israelenses à cidade. Imagens do local divulgadas pela imprensa e nas redes sociais mostravam vários abrigos improvisados destruídos ou em chamas.
A ONG Médicos sem Fronteiras (MSF) relatou nesta segunda-feira que mais de 15 corpos foram levados a uma de suas instalações na região de Rafah e que atendeu ainda dezenas de feridos. “Estamos horrorizados com esse incidente mortal, que demonstra mais uma vez que nenhum lugar é seguro. Continuamos a pedir um cessar-fogo imediato e sustentado em Gaza”, disse a MSF em postagem no X.
Último bastião do Hamas?
No início de maio, Israel lançou o que chamou de “operação limitada” na região e assumiu o controle da parte palestina da fronteira de Rafah, que liga o enclave ao Egito. Desde então, o Exército tem relatado o que chamou de “ataques seletivos” para capturar membros do Hamas no leste da cidade, que acredita ser o último bastião do grupo terrorista em Gaza.
Nesta segunda-feira, as Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram em nota divulgada no X que duas autoridades de alto escalão do Hamas foram mortas no bombardeio.
“O ataque foi realizado contra alvos legítimos em acordo com as leis internacionais através do uso de munições precisas e com base em [dados de] inteligência precisa que indicavam a utilização da área pelo Hamas”, dizia a postagem. “As IDF estão cientes de relatos que indicam que, como resultado do ataque e do fogo que foi provocado, vários civis na região teriam sido feridos. O incidente está sob análise”, dizia a nota.
O bombardeio ocorreu poucos dias depois de a Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, ordenar o fim dos ataques israelenses em Rafah.
“Inferno na Terra”
A agência das Nações Unidas para os refugiados palestinos (UNRWA) afirmou nesta segunda-feira que “as informações que chegam de Rafah sobre ataques às famílias que buscam abrigo são assustadoras”.
“Há relatos de mortes em massa, incluindo de crianças e mulheres. Gaza é o inferno na Terra. As imagens de ontem à noite são mais um testemunho disso”, disse a entidade, em postagem no X.
Em meados de maio, o diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini disse que o número de palestinos que foram “obrigados a fugir” de Rafah na esteira da operação militar israelense já era de 800 mil.
O Ministério do Exterior do Catar, que atua como um dos mediadores dos esforços internacionais por uma trégua no conflito em Gaza, expressou “preocupação que o bombardeio possa complicar as negociações em andamento e impedir um acordo por um cessar-fogo imediato e permanente.”