Ainda não está fechada a escolha do próximo James Bond. A fazer fé nos rumores, poderá ser o ator britânico Aaron Taylor-Johnson a assumir o papel do agente secreto mais famoso do cinema. Já no que diz respeito ao carro, desvendamos o mistério: será este Aston Martin Vanquish. Um esportivo de elite com motor de 12 cilindros e 835 cv (110 cv a mais do que no DBS), além de um torque brutal de 1.000 Nm (ou 102 kgfm). Isto faz dele, conforme
da Quatro Rodas, o carro de produção mais rápido da história do exclusivo fabricante.Menos do que isso não seria digno de 007. “O Vanquish não é um novo DBS, mas sim nosso novo porta-bandeira, com uma plataforma única”, afirma o diretor de produto, Alex Long, cuja missão é valorizar o ciclo de vida dos modelos: “O DB11 foi lançado em 2016 e não teve melhoria até 2023, quando foi descontinuado. Isso só pode acontecer numa marca de luxo como a nossa. O meu trabalho é garantir que cada modelo envelheça graciosamente”.
Pela complexidade de montagem manual do motor V12, a produção do Vanquish será limitada a pouco menos de 1.000 unidades por ano.
A frente do novo Vanquish é o que menos muda, destacando-se os perfis inferiores inspirados no carro da Fórmula 1 da Aston Martin. A grade do radiador cresceu 13%, para criar um impacto estético mais marcante, mas também para responder às maiores necessidades de arrefecimento dos quatro cilindros adicionais (face aos modelos Vantage e DB12, que levam sob o capô um V8).
Mas a solução mais ousada está na traseira, com pequenas linhas transversais empilhadas e o perfil cortado, como se o orçamento tivesse acabado de repente, mas onde um painel de fibra de carbono cria uma nota de irreverência como há muito não se via na Aston Martin. Para quem preferir uma solução mais conservadora, a peça (de fibra de carbono aparente) pode ser pintada na cor da carroceria.
Em 2019, a fábrica prometeu um V6 híbrido, mas ficou nas intenções. “Fazer um motor híbrido leve nunca nos passou pela cabeça”, assegura Simon Newton, o engenheiro-chefe do modelo, antes de explicar que, mesmo conservando a cilindrada (5.204 cm3), este V12 é realmente novo: “Reforçamos bloco e bielas, redesenhamos a cabeça dos cilindros, alteramos o perfil do comando e as portas de admissão e escape. Os turbocompressores (Mitsubishi) estão mais leves, o que permitiu resposta 15% mais rápida”, enumera. Com isso, o atraso na ação do turbo foi reduzido.
Música a bordo
Quando os 12 cilindros ganham vida, o motor soa de forma agradavelmente volumosa sem impor a sua presença, se não for desejada. Não ligamos o rádio porque isso poderia ser considerado uma heresia. A afinada sinfonia dos 12 instrumentos de sopro supera qualquer composição musical. “Algumas das frequências de som são trabalhadas no sistema de escape, amplificadas ou moderadas e depois enviadas para a cabine pelos alto-falantes e por isso se ouve como muito natural”, diz Newton.
Opcionalmente, é possível pedir um sistema de escape com saídas de titânio, para gerar um som ainda mais dramático, principalmente acima das 6.000 rpm. Esse é um dos três opcionais que o Vanquish pode receber. Os outros são bancos e teto de fibra de carbono, em alternativa ao panorâmico, que a marca inglesa diz ser capaz de reter 94% dos raios solares.
Com 288,5 centímetros de entre-eixos, o Vanquish supera o DB12 (280,5 cm) e o Vantage (270,5 cm), algo que se nota no conforto de rodagem e na forma de um certo relaxamento em curvas.
Se o conforto foi ampliado, isso se deve também à conivência dos amortecedores adaptativos (Bilstein). “Reduzimos o amortecimento hidráulico, o suficiente para deixar o motorista assumir o controle”, explica o engenheiro-chefe.
Nos dois programas de condução mais dinâmica – Sport e, principalmente, Sport+ –, tudo o que há no piso se sente com maior nitidez, como resultado da afinação mais seca, mas sem ser desconfortável. Os outros modos são GT (a base), Wet (Molhado), Track (Pista) e Individual (dentro do qual é possível calibrar a resposta de direção, chassi e motor).
O controle de estabilidade pode ser regulado para permitir mais ou menos derrapagem das rodas traseiras, indo de um controle total a um quase modo drift, que permite derrapagens. Capacidade que não pudemos testar nesta experiência em estradas públicas na sinuosa ilha da Sardenha, na Itália.
O comportamento dinâmico do carro transmite elevado grau de confiança ao motorista, para o que contribui as bitolas maiores (1,1 cm a mais na frente e 2 cm atrás). Há ainda diferencial autoblocante eletrônico (pela primeira vez usado pela Aston Martin em um V12), montado na transmissão. Ele pode passar de totalmente aberto a 100% de bloqueio em 135 milésimos de segundo, dando um impulso corretivo ao eixo traseiro.
A direção é direta e tem uma precisão que pode levantar algumas sobrancelhas, mesmo na Porsche. No caso da caixa automática de oito marchas, é possível que alguns motoristas prefiram um escalonamento mais curto (e talvez um mecanismo de dupla embreagem), mas esta afinação parece assentar a este nobre GT como uma luva, além de contribuir para não tornar o consumo escandaloso. Até porque o desempenho é digno de superesportivo: o Vanquish é capaz de acelerar até 100 km/h em 3,3 segundos e chegar a 345 km/h.
Adeus, Mercedes!
O Vanquish é o quarto Aston Martin a adotar a central multimídia com sistema desenvolvido pela própria marca, deixando de ser cedido pela Mercedes-Benz. As diferenças são visíveis, a começar pela melhor integração entre as duas telas e na própria estrutura do painel. A tela tátil central e a instrumentação digital, cada qual com 10,25”, ajudam a definir o ambiente a bordo, também muito marcado pelo couro de qualidade, as inserções de metal e a fibra de carbono exposta.
Uma crítica: a instrumentação digital não transmite o caráter que a condução de um Aston Martin Vanquish merece, até porque grafismos similares podem ser encontrados em automóveis de marcas generalistas que custam dez vezes menos. Falta a solenidade que seria garantida com uma instrumentação analógica, o que contentaria o elevado grau de exigência de muitos clientes, caso dos que se sentem ofendidos só com a ideia de trocar um exclusivo relógio analógico no seu pulso por um digital.
Ainda no capítulo aspectos a melhorar, tanto a superfície do painel como a da traseira refletem muito a luz e algumas peças no luxuoso cockpit emitiram frequentes queixas ao passar sobre pisos irregulares ou em esforços de torção mais exigentes, como resultado de curvas feitas a velocidades mais altas. Isso, pelo menos, na unidade de pré-produção que guiamos.
Por fim, o preço, algo dificilmente melhorável. Na Europa, o modelo custa perto de meio milhão de euros. No Brasil, as primeiras unidades chegam a partir de fevereiro, por um preço inicial de R$ 5,8 milhões. Cinco unidades já foram vendidas. A produção para 2025 já se encontra quase esgotada, segundo a fábrica. Ou seja, interessados deverão se apressar se quiserem evitar entrar em uma fila.
Veredicto Quatro Rodas
Um esportivo à altura do agente secreto mais famoso do mundo, que concilia alta performance e uso diário com o mesmo charme e eficiência.
Ficha Técnica – Aston Martin Vanquish
Preço: R$ 5.800.000
Motor: gas., diant., long., V12, 5.204 cm³, 835 cv a 6.500 rpm; 102 kgfm entre 2.500 e 5.000 rpm
Câmbio: aut., 8 marchas, traseira
Direção: elétrica
Suspensão: duplo A (diant.), multibraços (tras.)
Freios: disco ventilado carbo-cerâmico, nas quatro rodas
Pneus: 275/35 R21 (diant.), 325/30 R21 (tras.)
Dimensões: compr., 485 cm; larg., 204,4 cm; alt., 129 cm; entre-eixos, 288,5 cm; peso, 1.900 kg; porta-malas, 248 l
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 3,3 s; veloc. máx., 345 km/h
*Dados de fábrica