A Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) lança, nesta terça-feira (28), o livro “Cachoeira e seu Município – Escorço Físico, Político, Econômico e Administrativo”. A publicação traz textos do historiador Pedro Celestino da Silva, originalmente publicados nas revistas do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), em 1937 e 38. A organização e atualização da obra foi realizada pelo também historiador Manoel Passos Pereira. O lançamento ocorre a partir das 17h, na Academia de Letras da Bahia, Avenida Joana Angélica.
Trata-se de uma obra de fôlego, com quase 500 páginas, subdividida em duas partes. A primeira parte conta os primórdios da formação da cidade, desde a criação da Capitania da Bahia, por carta de doação a Francisco Pereira Coutinho, em 1534. Ele descreve as dificuldades das primeiras povoações às margens do Rio Paraguaçu e o estabelecimento do porto da Cachoeira. O autor se detém em minúcias sobre a geografia em que se instalou o município, algo que remete aos Sertões, de Euclides da Cunha.
Fonte histórica
Manoel explica que o principal objetivo do livro é reconhecer a importância de Pedro Celestino como historiador regional. Para ele, trata-se de uma “fonte histórica necessária, talvez até obrigatória, para as presentes e futuras pesquisas que envolvam a história da Bahia”. Ainda segundo o organizador, o autor “chega a contemporaneidade como um intelectual que se dedicou a decifrar a história de uma sociedade conservadora que ajudou a construir o que denominamos de civilização brasileira”.
O projeto de republicar os textos, explica Manoel, começou ainda na sua graduação em história, na Ufba, com o apoio do professor Cid Teixeira, que inclusive teria se oferecido para fazer a apresentação da obra. “Infelizmente, não pude contar com a valiosa apresentação do meu querido mestre”, lamentou. Ele explicou ainda que as imagens que ilustram o livro foram obtidas durante suas pesquisas na biblioteca do IGHB e no Museu Tempostal. Ele cita ainda os vários amigos que contribuíram para a execução do seu trabalho, incluindo o jornalista Jorge Ramos, diretor da biblioteca do IGHB, falecido recentemente.
Colonização
Nas 30 páginas compreendidas entre os títulos Capitania do Paraguaçu e Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, o autor mostra as primeiras interações entre europeus que chegam para colonizar e os povos originários, que enfrentaram uma invasão das terras em que viviam. “Essa guerra de extermínio praticada à sombra da cruz e da lei, deixa ver todo horror e crueldade dessa situação: aldeias inteiras foram destruídas, de outras se refugiaram nas florestas os seus moradores para se subtraírem à escravidão”, descreve Pedro Celestino.
O autor lembra que parte dos antigos moradores “aceitaram o jugo por influência dos jesuítas, permaneceram nas reduções, em estado de meia civilização, não falando no grande número dos silvícolas, que, pelo mau tratamento dos colonos, fugiram para o mato, onde novamente se barbarizaram”. Ele cita trechos das crônicas do padre Simão de Vasconcelos, da Companhia de Jesus, que viveu entre 1616 e 1641, voltando ao país depois de 1662.
Mesmo tendo sido escritos nos anos 30 do século passado, os textos não oferecem a visão eurocêntrica em em voga na época, citações do período colonial, o que determina muitas vezes uma anacrônica visão eurocêntrica, mesmo quando cita o padre jesuíta, que viveu no Século XVII. Exemplo disso: “A paz com indígena do país durou enquanto durou também a paciência dele, porque não houve comércio vil, barbaridade, violência, extorsão e imoralidade que os portugueses não praticassem em todas as capitanias contra aqueles a quem chamavam selvagem, mas a quem, neste ponto, excediam em selvageria”.
25 de junho
A segunda parte do livro inicia parecida com o final da anterior. Só que o descritivo geográfico desta seção trata da população, usos e costumes, religião, entre outros. Se dedica a pormenores de 11 templos, fala dos subúrbios, freguesias e das capelas particulares ali existentes, antes de adentrar em outros fatores como os econômicos e políticos locais.
A partir da página 346, no capítulo Fatos e Vultos Cachoeiranos, Pedro Celestino conta os fatos heroicos da cidade que redundaram na Independência da Bahia, no dia 2 de Julho. Para a cidade, a data magna é comemorada sete dias antes, quando a localidade declarou fidelidade ao príncipe D. Pedro e afastamento do Estado português. Os diversos personagens daquela saga estão citados nos títulos seguintes.