O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pretende negociar a sua sucessão em agosto e setembro, mas a maioria dos pré-candidatos tenta empurrar para depois das eleições municipais essa discussão, à espera de que o cenário fique mais claro e a influência dele nesse processo diminua. A eleição ocorrerá em 1º de fevereiro de 2025.
Lira já reconheceu a aliados segundo Raphael Di Cunto , do jornal Valor, que sabe que, quanto mais próximo do fim do mandato, menor será sua força. Por isso, tenta resolver o assunto junto ao governo antes das eleições municipais para forçar o presidente Lula da Silva (PT) a um acordo em torno do nome escolhido por ele.
O petista terá poder de veto, mas isso, segundo seus aliados, será relativo: apontado como favorito de Lira, o deputado federal baiano, Elmar Nascimento é líder do União Brasil. Vetá-lo seria abrir guerra com o terceiro maior partido da Câmara, reconhecem petistas.
Por isso, o partido do presidente quer iniciar o debate sobre a sucessão apenas em novembro. Articuladores da sigla defendem que é preciso equilibrar a estratégia política do Palácio do Planalto, que depende dos acordos com Lira para aprovar as matérias do governo, com os interesses da própria bancada, que tenta cavar mais espaço no Legislativo no próximo biênio, com comissões e relatorias mais importantes. Ao mesmo tempo, tenta preservar seu tamanho na Esplanada dos Ministérios e evitar o avanço do Centrão sobre mais cargos na reforma que deve ocorrer após a eleição municipal.
Já o bloco do MDB, PSD, Podemos e Republicanos tem o desafio de buscar uma “solução de consenso” dentro do grupo para forçar o apoio de Lira ao escolhido. O presidente da Câmara tem negado aos deputados que já tenha optado por Elmar e dito que escolherá o candidato com mais condições dentro dos partidos que o apoiaram. Nessas conversas, afirma que precisa de um aliado que preserve sua influência junto ao governo e à destinação de recursos do Orçamento, e lhe permita chegar com força em 2026 para disputar o Senado.
Apesar de enxergarem a união do bloco como decisiva para a eleição, os pré-candidatos do Republicanos (Marcos Pereira), do MDB (Isnaldo Bulhões) e do PSD (Antonio Brito) ainda não se acertaram sobre o momento de fazer isso. Pereira tem apoio no governo e na oposição e tenta selar essa aliança dentro do bloco o quanto antes em torno de sua candidatura. Já Bulhões e Brito têm maior simpatia dos governistas, mas enfrentam mais resistências de Lira e preferem deixar a definição para o fim do ano.
No caso de Brito, a relatoria do Orçamento de 2025 está nas mãos do PSD e a possibilidade de distribuir verbas no fim do ano em troca de apoio pode ser um diferencial. Lira costuma dizer que o parlamentar baiano é muito identificado com o governo e, por isso, não contaria com apoio da ala mais oposicionista e dos que querem maior “independência” em relação ao Planalto. Brito tem trabalhado para desconstruir isso em reuniões com parlamentares do PL e também conta com o passar do tempo para diminuir a influência de Lira na eleição.
Conterrâneo de Lira, Bulhões é o único dos líderes partidários “vetado” pelo presidente da Câmara como sucessor, já que poderia representar uma ameaça aos planos dele em Alagoas. A aliados, o emedebista tem se queixado desse suposto veto, mas afirmado que pode, inclusive, se aproveitar do “antilirismo” para buscar seu espaço, diante de reclamações do baixo clero sobre a falta de previsibilidade das sessões e excesso de poder dos líderes dos partidos nas votações.
Todos os pré-candidatos admitem em conversas reservadas que uma aliança entre Lira e Lula definiria a eleição, mas a maioria é cética quanto à possibilidade de esse acordo ocorrer. Há apostas, inclusive, de que o deputado do PP buscará construir um nome de fora deste grupo diante da falta de consenso entre os pré-candidatos atuais, como o líder do seu partido, doutor Luizinho Teixeira (PP-RJ), ou líder do Republicanos, Hugo Motta (PB) – que, neste caso, precisaria enfrentar o presidente do seu partido, algo que tem prometido não fazer.
O próprio Elmar Nascimento, apontado como o favorito do presidente da Câmara, tem se movimentado intensamente em busca de ampliar seus apoios e não ficar dependente dele. Na quarta-feira, levou o diretório nacional do União Brasil a atropelar o diretório de Recife e aderir à reeleição do prefeito João Campos (PSB), com o objetivo de ser retribuído pelo PSB em nível nacional. O diretório de Pernambuco é o mais influente da sigla e possui 5 dos 12 deputados federais do PSB.
“Esse apoio abre a discussão para a consolidação do nosso alinhamento à caminhada do Elmar na Câmara”, escreveu João Campos no Instagram. O “anúncio” foi recebido com ceticismo e críticas no MDB e Republicanos. Parte dos integrantes dessas siglas disse que foi apenas um gesto e que não há nada decidido. Outra parte reclamou de “desrespeito” porque MDB e Republicanos estão ao lado de Campos desde sua primeira eleição e também têm pré-candidatos na Câmara. “Ainda não é hora de falar sobre esse tema [sucessão na Câmara]”, desconversou o presidente do PSB, Carlos Siqueira.