O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), iniciou o mês de setembro sem anunciar quem será seu candidato para a sucessão na Casa. A expectativa era de que a indicação ocorresse em agosto. Depois de uma semana intensa de negociações nos bastidores, o deputado alagoano não conseguiu fechar consenso para uma candidatura única articulada apoiada por ele, informa Iander Porcella e Victor Ohana do Broadcast.
Aliados dizem que Lira ainda deve declarar apoio ao baiano Elmar Nascimento (União Brasil), considerado seu favorito desde o ano passado. Mas os outros dois principais candidatos, o também baiano Antonio Brito (PSD) e Marcos Pereira (Republicanos-SP), mantiveram suas candidaturas. Esse cenário torna a eleição mais incerta. A avaliação entre deputados é que o presidente da Câmara ainda não tem certeza da viabilidade de Elmar.
Lira ressaltou no sábado, 31, que os três candidatos fazem parte do grupo que o elegeu e o reelegeu presidente da Câmara. “Qualquer nome que seja escolhido entre os três, e aí a gente está misturando um pouco de viabilidade política com capacidade de aglutinação… A escolha não é fácil, o momento não é simples, porque você tem que fazer uma condução de uma sucessão entre amigos”, afirmou, durante evento da XP, em São Paulo.
Na sexta-feira, 30, penúltimo dia de agosto, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, marcou posição e defendeu que tanto Brito, seu candidato, quanto Pereira, mantivessem as candidaturas contra Elmar, apurou o Estadão/Broadcast.
Uma das manifestações de Kassab nesse sentido ocorreu em uma conversa com Pereira, em São Paulo. Na reunião, o presidente do PSD avaliou, segundo aliados, que Brito e o presidente do Republicanos são fortes na disputa. Portanto, não faria sentido que nenhum dos dois desistisse a cinco meses da eleição, que ocorrerá em fevereiro de 2025.
Além disso, há uma espécie de “pacto” de manutenção, por enquanto, do bloco partidário formado por PSD, Republicanos e MDB, o que dificulta que qualquer uma das legendas apoie Elmar. Endossar a candidatura de um deputado fora do bloco seria visto como um rompimento do acordo fechado pelo grupo. Além de Brito e Pereira, a aliança também inclui Isnaldo Bulhões (MDB-AL), cujo nome já chegou a ser considerado para a eleição.
Desde maio, conforme o Broadcast, Lira vinha dizendo a aliados que indicaria seu candidato em agosto. Uma das ocasiões em que a promessa foi feita foi em 25 de maio durante a festa de casamento de uma filha do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP.
Em julho, o presidente da Câmara mencionou publicamente, em entrevistas, que agosto seria um mês decisivo para a sucessão. “Veja que agosto é muito antes da eleição que será em fevereiro e está muito após o início dessa discussão que foi um ano atrás”, afirmou, em 19 de julho, à GloboNews, ao ser questionado sobre o prazo para a indicação do candidato.
“A Casa pulsa, normalmente, no segundo biênio, com uma aproximação muito maior dos eleitores aos candidatos. Isso vai ser fundamental para a escolha, para a decisão que nós deveremos, tranquilamente, amadurecer durante o mês de agosto, para dar tempo de sobra para que possíveis correções, ajustes, unidade possam acontecer”, disse Lira, em 15 de julho, à CNN Brasil.
O que mudou de julho para cá, de acordo com a avaliação de alguns deputados, foi a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de questionar a transparência das emendas parlamentares. A ofensiva do Judiciário, segundo aliados, pegou Lira de surpresa e deixou incerto seu poder político. Grande parte da influência do deputado alagoano na Câmara tem relação com a distribuição de emendas, principalmente as de comissão, cujo modelo está em xeque.
O melhor cenário para Lira seria conseguir convencer os demais candidatos a desistir de disputar a presidência da Casa e apoiar o nome escolhido por ele. De acordo com um aliado, o deputado alagoano não quer deixar ninguém insatisfeito. Se a eleição for decidida no voto, Lira corre o risco de ver seu candidato derrotado, como ocorreu com o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia.
Na semana passada, Lira passou a maior parte do tempo na residência oficial da presidência da Câmara, onde recebeu aliados para tratar da sucessão e das emendas. Reuniu-se também com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio da Alvorada. Pessoas próximas diziam que ele deveria indicar seu candidato até o sábado, 31, porque costuma cumprir os prazos que estabelece.
Ao longo da semana, houve uma tentativa de unificar PSD, Republicanos e MDB em torno do nome de Marcos Pereira para fazer frente à candidatura de Elmar. A ideia foi discutida em um jantar na casa de Rodrigo Maia. No entanto, apesar da disposição pela unidade, Brito manteve sua candidatura.
Além de Pereira e Brito, estiveram na casa de Maia o líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), Isnaldo, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) – candidato de Maia que perdeu a eleição da presidência da Câmara para Lira em 2021 – e o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), líder da maioria no Congresso.
Ao mesmo tempo em que houve uma tentativa de união em torno do nome de Pereira, algumas lideranças da Câmara também defenderam ao longo da semana que ele desistisse da disputa e abrisse o caminho para Hugo Motta.
Líderes dizem que Motta seria um candidato de consenso. Alguns criticam Pereira, afirmam que ele comete um equívoco e que está em um “projeto pessoal” de se tornar presidente da Câmara. Com isso, dizem, pode acabar minando a oportunidade do Republicanos de presidir a Casa pela primeira vez. Aliados de Pereira, por outro lado, argumentam que ele já abriu mão antes de concorrer e acredita que “chegou sua hora” de ir para a disputa.
Elmar sofre resistência de petistas por atritos com o PT na Bahia, além de já ter se referido ao partido como “organização criminosa” e de ter chamado Lula de “ladrão”. Em conversas privadas, Lula já demonstrou incômodo com a relação entre o líder do União e o empresário Carlos Suarez, conhecido como “rei do gás”.
Na semana passada, Elmar se reuniu com as cúpulas do PSDB e do PDT, em busca de apoio. O jantar ocorreu na casa do senador Weverton Rocha (PDT-MA) e contou com a presença do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), do presidente do PSDB, Marconi Perillo, do deputado André Figueiredo (PDT-CE) e do ministro da Previdência, Carlos Lupi, ex-presidente do PDT.
Em recente entrevista ao Estadão/Broadcast, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), reforçou a promessa de Lula de que não vetará nenhum candidato, mas afirmou que o partido busca um entendimento para preservar a “parceria com o Executivo”.