O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, manifestou sua oposição a uma possível mudança no regime de metas de inflação. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ele alertou que qualquer alteração nas metas durante a próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) seria catastrófica. Fraga defende que a meta de 3% seja mantida como um objetivo permanente a ser perseguido pela autoridade monetária.
Segundo Fraga, o Brasil está progredindo em direção à meta de inflação, mesmo que com alguns sacrifícios, e seria imprudente desperdiçar esse avanço. Ele enfatiza que a estabilidade alcançada até agora não deve ser comprometida. O economista argumenta que os benefícios decorrentes da substituição do ano-calendário pelo modelo de metas contínuas seriam limitados e apenas alinhariam a política monetária atualmente adotada pelo Banco Central.
Fraga ressalta que a extinção da carta aberta, exigida quando a inflação encerra o ano fora do intervalo determinado, não acarretaria grandes perdas. Ele acredita que o Banco Central já presta contas de sua atuação ao longo do ano em várias ocasiões, como nas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e nos relatórios de inflação, além das idas obrigatórias do presidente do BC ao Congresso.
Quando questionado sobre a meta de 3% a partir de 2024, Fraga expressa seu apoio à sua manutenção e destaca que as expectativas têm convergido para esse patamar. Ele observa que o Banco Central já sinalizou sua preocupação com o próximo ano e a possibilidade de uma trajetória de convergência mais prolongada. Portanto, não enxerga motivos para alterar a meta.
Fraga também rejeita a ideia de que uma possível mudança no intervalo de tolerância seria benéfica. Ele explica que a função desse intervalo é sinalizar a quantidade de desvio em relação à meta que a sociedade está disposta a tolerar. Alterar a banda de tolerância seria enviar um sinal negativo, indicando que a sociedade aceita mais inflação no curto prazo em detrimento da atividade econômica. O economista alerta que o presidente Lula e outros membros do governo estão equivocados ao pensar que uma mudança na meta de inflação poderia reduzir as taxas de juros.
Fraga destaca os prejuízos que uma mudança na meta traria, incluindo o aumento da incerteza. Ele enfatiza que manter a meta seria uma conquista significativa para o país, especialmente em um contexto em que a responsabilidade fiscal foi abandonada. O economista ressalta que o Brasil ainda está caminhando em direção à meta, mesmo com os desafios enfrentados, e isso não deve ser desperdiçado.
Em relação à substituição do ano-calendário pela meta contínua, Fraga considera que os benefícios seriam modestos. Ele acredita que a principal vantagem seria estabelecer os 3% como uma meta permanente. Fraga destaca que a inflação anual não possui grande relevância na prática e que o Banco Central já opera considerando o horizonte de atuação da política monetária, olhando para o futuro.
Quanto ao prazo para verificar o cumprimento da meta, Fraga afirma que o Banco Central deve identificar se o choque é de oferta ou demanda, temporário ou permanente, e qual a sua magnitude. Ele ressalta que não há um prazo fixo e que o Banco Central precisa suavizar o impacto dos choques, mantendo as expectativas de inflação ancoradas.
Fraga acredita que a definição desse prazo de verificação deve ser deixada nas mãos do Banco Central, que já está atento a essa questão. Ele destaca a importância de o BC agir com cuidado, evitando promessas além de sua capacidade. O economista conclui afirmando que o crescimento sustentado da economia depende de investimentos, produtividade, tecnologia e reformas estruturais, e que o Banco Central não pode ser responsabilizado por impulsionar o crescimento econômico de forma isolada.
Arminio Fraga é um economista formado pela PUC-Rio e possui doutorado pela Universidade de Princeton. Atualmente, ele é sócio-fundador da gestora Gávea Investimentos e também está envolvido em atividades de institutos voltados para políticas de saúde e desenvolvimento social.