Após três décadas, liderança armênia de enclave separatista anuncia capitulação formal frente ao governo do Azerbaijão. Mais da metade dos habitantes do enclave já fugiram. Governo da Armênia denuncia “limpeza étnica”.A liderança armênia do enclave de Nagorno-Karabakh anunciou nesta quinta-feira (28) a dissolução do Estado separatista, após três décadas de conflitos com o Azerbaijão. O anúncio ocorre enquanto prossegue a fuga da população local. Segundo o governo da vizinha Armênia, mais da metade da população de Nagorno-Karabakh fugiu desde que o Azerbaijão lançou uma bem-sucedida ofensiva relâmpago na semana passada.
“68.386 pessoas deslocadas à força de Nagorno-Karabakh chegaram à Armênia”, escreveu Nazeli Baghdasarian, porta-voz do primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, em sua conta na rede social Facebook.
Pashinyan, por sua vez, afirmou que nos próximos dias não haverá mais armênios em Nagorno-Karabakh e denunciou que está sendo promovida uma “limpeza étnica” na autoproclamada república, agora dissolvida. Por décadas, a Armênia forneceu apoio aos separatistas de Nagorno-Karabakh.
“O êxodo de armênios de Nagorno-Karabakh continua como resultado da política de limpeza étnica levada a cabo pelo Azerbaijão”, afirmou Pashinyan durante um encontro com membros do governo, citado pela agência oficial Armenpress.
Segundo o primeiro-ministro, “a análise mostra que nos próximos dias não haverá mais armênios em Nagorno-Karabakh”. “Esta é uma ação direta de limpeza étnica sobre a qual alertamos a comunidade internacional há muito tempo”, acrescentou.
Imagens da televisão armênia mostram longas filas de carros na estrada que leva ao centro humanitário na pequena cidade fronteiriça de Kornidzor.
Dissolução e fuga
Na quarta-feira, os serviços de segurança do Azerbaijão detiveram na fronteira dois ex-funcionários de alto escalão da autoproclamada república de Nagorno-Karabakh (Artsakh, para os armênios).
O ex-ministro de Estado Rubén Vardianian e o ex-chefe do Conselho de Segurança Vitali Balasanian foram detidos quando tentavam partir para a Armênia.
Após as prisões e a derrota para as tropas do Azerbaijão, a liderança separatista afirmou que a autodeclarada República de Artsakh “deixaria de existir” em 1º de janeiro, o que equivaleu a uma capitulação formal para o Azerbaijão.
Para o Azerbaijão e seu presidente, Ilham Aliyev, o resultado é uma restauração triunfante da soberania sobre uma área que é reconhecida internacionalmente como parte de seu território, mas cuja maioria étnica armênia conquistou a independência de facto em uma guerra na década de 1990.
Para os armênios, é uma derrota e uma tragédia nacional.
O Azerbaijão vem negando a acusação de limpeza étnica, dizendo que não está forçando as pessoas a saírem e que irá reintegrar pacificamente a região de Nagorno-Karabakh e garantir os direitos civis dos armênios étnicos.
Os armênios da região dizem que não confiam nessa promessa, lembrando-se de uma longa história de derramamento de sangue entre os dois lados, incluindo duas guerras desde a dissolução da União Soviética. Durante dias, eles têm fugido em massa pela estrada montanhosa que atravessa o Azerbaijão e liga Nagorno-Karabakh à Armênia.
Os Estados Unidos e outros governos ocidentais têm expressado sua preocupação com a crise humanitária e exigido o acesso de observadores internacionais para monitorar o tratamento dado pelo Azerbaijão à população local.
Embora tenha dito que não tinha problemas com os armênios comuns de Nagorno-Karabakh, Aliyev na semana passada descreveu seus líderes como uma “junta criminosa” que seria levada à justiça.
Muitos dos armênios que fugiram nesta semana em carros, caminhões, ônibus e até mesmo tratores carregados de peso disseram que estavam com fome e com medo.
“Esta é uma das páginas mais sombrias da história da Armênia”, disse o padre David, um sacerdote armênio de 33 anos que foi à fronteira para dar apoio espiritual aos que chegavam. “Toda a história da Armênia é cheia de dificuldades.”