Coalizão partidária do ultraliberal Milei avança, subindo de 3 para 38 deputados e elegendo 8 senadores. Aliança de Sergio Massa perde deputados, mas se mantém com maior bancada na Câmara. Grupo ligado a Macri encolheA Argentina saiu das urnas no domingo (22) com um Congresso fragmentado, que deve representar um desafio para quem vencer o segundo turno da eleição presidencial, marcado para 19 de novembro.
Além de votarem no primeiro turno do pleito presidencial, os argentinos elegeram no último domingo 130 dos 257 membros da Câmara dos Deputados e 24 dos 72 membros do Senado. O resultado indica que o próximo presidente do país terá que negociar com o Congresso para aprovar medidas, já que nenhuma das coligações que permanece na disputa presidencial conseguiu garantir maioria nas duas Casas.
Coligação de Massa perde espaço na Câmara, mas se mantém com maior bancada
A coligação partidária que elegeu o maior número de deputados na Câmara foi a peronista União Pela Pátria, do primeiro colocado na disputa presidencial, o ministro Sergio Massa. A coligação de legendas peronistas elegeu 108 deputados. Foram dez a menos do que a atual bancada governista. Para garantir maioria simples na Casa eram necessários ao menos 129 deputados.
No Senado, a situação do grupo de Massa se mostrou um pouco mais confortável. Assim como na Câmara, a coligação vai contar com a maior bancada: 34 senadores – dois a mais do que na atual legislatura. São necessários 37 senadores para formar maioria na Casa.
Ainda assim, o resultado não deixa de ser positivo para o União Pela Pátria, que carregava no pleito o fardo de ocupar o atual governo argentino, encabeçado pelo impopular presidente Alberto Fernández, que em meio a uma profunda crise econômica chegou a desistir de concorrer à reeleição. Sua desistência abriu espaço para a candidatura de Massa, atualmente titular do Ministério da Economia e que no último domingo surpreendeu ao obter 36,7% dos votos na disputa presidencial, contrariando a maioria das pesquisas, que indicavam um percentual menor.
Grupo do ultraliberal Milei se tornar terceira maior força do Congresso
Além de garantir a ida Javier Milei para o segundo turno das eleições presidenciais da Argentina, a coligação ultraliberal do candidato populista, chamada A Liberdade Avança, conseguiu se transformar na terceira força política do Congresso do país. Formada em 2021, A Liberdade Avança, saltou de três deputados – sendo deles o próprio Milei – para 38. A coligação ainda elegeu oito senadores, sendo que antes não possuía nenhum. Já no pleito presidencial, o novato político Milei obteve 30% dos votos.
Apesar do crescimento, as bancadas de Milei estão distantes da maioria necessária para aprovar medidas no Congresso.
O perfil de alguns dos eleitos do grupo também chamou a atenção. Um dos novos deputados da coligação é Ricardo Bussi, filho de um torturador da ditadura militar argentina. Já um dos senadores eleitos é Juan Carlos Pagotto, que atuou como advogado de repressores do regime.
Além deles, também foi eleita deputada Lilia Lemoine, adepta da prática de cosplay, ela se notabilizou na campanha por defender a aprovação de um projeto apelidado de “aborto masculino”, que prevê que ´pais possam renunciar a paternidade não desejada, algo que viola convenções internacionais. “Não é justo que um homem tenha que sustentar economicamente uma criança até os 18 anos quando não quer tê-la”, disse a deputada eleita.
Outro deputado eleito é Alberto Benegas Lynch, assessor de Milei, que durante a campanha defendeu um rompimento das relações da Argentina com o Vaticano. No último evento de campanha de Milei no primeiro turno, Lynch discursou e disse que jornalistas são “filhos de uma grande ‘pauta’” e disse que a proposta do candidato presidencial de extinguir o Banco Central lhe causava um “orgasmo intelectual”.
Grupo ligado a Macri encolhe
O mau desempenho da candidata presidencial Patricia Bullrich, que amargou o terceiro lugar na disputa, ficando fora do segundo turno, também se refletiu no desempenho legislativo da sua coligação, a Juntos Pela Mudança que em 2015 chegou a Presidência com Mauricio Macri (2015-2019).
Conhecida pela sigla JxC, a coligação saiu do pleito de domingo com 24 deputados a menos, caindo de 117 para 93. No Senado, mais um desempenho negativo: caiu de 33 para 24 senadores. Bullrich, por sua vez, conquistou 23,8% dos votos no pleito presidencial, atrás de Massa e Milei.
No segundo turno, os eleitores da conservadora Bullrich devem ser decisivos para a escolha do novo presidente. Em discurso neste domingo, ela reconheceu a derrota e rechaçou apoiar Massa. “Jamais seremos cúmplices do comunismo na Argentina, nem das máfias que destruíram este país”, disse Bullrich, no que pareceu uma sinalização de que ela pode deixar a porta aberta para eventualmente apoiar Milei, apesar de o ultraliberal ter feito pesados ataques pessoais contra ela durante a campanha, explorando e distorcendo o passado de militância de esquerda da atual política conservadora durante a ditadura.
Ao lado de líderes de seu partido, como o ex-presidente Macri, Bullrich ainda acusou Massa de ter feito parte do “pior governo” que o país já teve.
Após a apuração indicar sua passagem para o segundo turno, Milei também fez acenos para o grupo político de Bullrich, argumentando que ambos têm um adversário em comum: o peronismo kirchnerista, o grupo político da ex-presidente e atual vice-presidente Cristina Kirchner, de quem Massa atualmente é aliado, apesar de não pertencer exatamente a essa corrente.
No entanto, um apoio fechado do JxC a Milei ainda é considerado incerto. Um dos principais partidos da coligação, o União Cívica Radical (UCR), uma legenda de centro-esquerda não peronista, já vem sendo cortejado por Massa. Durante a campanha, Milei direcinou vários ataques a UCR. Já setores do partido Proposta Republicana (PRO), do ex-presidente Macri e parte da coligação JxC, já vêm dando alguns sinais de que pretendem se aproximar de Milei.