O novo ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, anunciou conforme a RFI um forte aumento nas tarifas de energia elétrica e de gás, como principal medida de redução do déficit fiscal, e um acordo com os setores exportadores para anteciparem exportações, como principal medida para fortalecer as escassas reservas do Banco Central e, consequentemente, estabilizar o mercado cambial.
As medidas, anunciadas na noite desta quarta-feira (3), formam parte da estratégia para cumprir com as metas do acordo financeiro fechado com o Fundo Monetário Internacional (FMI) em março, mas analistas e economistas consideram que os anúncios são “expressões de desejo” porque não indicam “nem como nem quando” serão implementadas.
“Sergio Massa anunciou objetivos, mas não explicou como vai implementá-los nem quando serão atingidos. Sem isso, são meras expressões de desejo”, definiu à RFI o analista econômico Damián Di Pace, diretor da consultora Focus Market.
“Quais são os fundamentos para que os anúncios sejam cumpridos? Como e quando o déficit será reduzido? Essas são as perguntas que os agentes econômicos fazem”, apontou Di Pace.
Tarifaço
A medida mais concreta é uma redução nos subsídios nas tarifas de energia que vai implicar um forte aumento nas contas de luz em todos os domicílios que consumirem mais de 400 kWh por mês. O mesmo vai valer para as contas de gás, mas não foi especificado o limite de consumo nem de quanto será o aumento nem quando começará a reger.
Economistas calculam um aumento entre 300% e 600% no excedente e advertem para o impacto desse incremento na inflação que deve fechar o ano ao redor de 100%.
“É um ‘tarifaço’ gigantesco que terá efeito sobre os preços da economia. Foi a única medida concreta de contenção do gasto público para reduzir o déficit fiscal, mas é uma redução que afeta as pessoas. Não há nenhum corte no gasto do setor público”, criticou o economista e deputado, José Luis Espert.
Massa garante cumprir metas do FMI
Sergio Massa garantiu que o governo vai cumprir as metas do acordo com o FMI que estabelecem um déficit fiscal primário de até 2,5% do PIB (atualmente está próximo de 4%), uma emissão monetária não maior do que 1% do PIB (essa meta já está estourada) e o aumento de reservas do Banco Central em torno de seis bilhões de dólares (atualmente as reservas disponíveis estão em 1,5 bilhão de dólares).
“Vamos cumprir a meta de 2,5% de déficit fiscal (primário). Vamos fazer tudo o que for preciso para honrar a palavra empenhada”, prometeu o ministro Massa.
Para cumprir a meta de déficit, além do aumento nas tarifas, o ministro anunciou que não serão mais contratados novos servidores públicos, mas não anunciou um corte de pessoal. Também anunciou uma auditoria nos planos de assistência social para detectar falsos beneficiários.
Para cumprir a meta de emissão monetária, Massa garantiu que, até o final do ano, o governo não vai mais se financiar com emissão do Banco Central.
“Não vamos mais pedir emissão para nos financiarmos. Vamos nos virar com o que tivermos e com financiamento privado”, garantiu.
Para aumentar, urgentemente, as escassas reservas do Banco Central, o governo vai criar condições especiais para o investimento nos setores de petróleo e gás, minérios e agropecuária. Também vai conceder um benefício para que os exportadores dos setores agropecuários, de pesca e de minérios antecipem exportações por um total de US$ 5 bilhões em agosto. Outros US$ 2 bilhões viriam de organismos multilaterais de crédito.
Medidas insuficientes
“Esses US$ 5 bilhões são uma cifra pequena se considerarmos que, mensalmente, a Argentina exporta US$ 7 bilhões, sendo metade disso do setor agropecuário. Portanto, é um montante que já seria exportado de qualquer forma”, relativiza Daniel Artana, economista chefe da Fundação de Investigações Econômicas Latino-americanas (FIEL).
“Os 2,5% de déficit são de muito difícil cumprimento, porque já estamos em agosto. Restam apenas quatro meses para o ministro realizar essa mágica. Sobre o governo não se financiar mais com emissão monetária, é uma expressão de desejo porque, se o déficit não for reduzido a 2,5%, tal como o mercado prevê, o governo vai precisar emitir para financiar a diferença com um déficit maior”, considera o economista Andrés Borenstein.
Sergio Massa tomou posse no começo da noite desta quarta-feira (3) na Casa Rosada, sede do governo argentino. Duas horas depois, já no Ministério da Economia, anunciou as medidas que geraram forte expectativa desde quinta-feira passada, quando Massa foi confirmado como “superministro” no lugar de Silvina Batakis que durou apenas 24 dias no cargo, após substituir Martín Guzmán.
“Li que sou salvador, bala de prata ou superministro. Não sou um mago nem um salvador. Vim para trabalhar”, minimizou Sergio Massa
Segundo os analistas políticos, a chegada de Sergio Massa ao governo altera a relação de forças, deixando o presidente Alberto Fernández como uma mera figura protocolar para questões burocráticas, como assinar as decisões tomadas pelo ministro da Economia.