Apostar na alta da Bolsa brasileira nos próximos meses, em especial em um cenário de continuidade da política econômica de caráter liberal adotada nos últimos anos, e na queda da Bolsa dos Estados Unidos, em um ambiente de continuidade da alta dos juros e provável recessão, desponta como uma estratégia potencialmente vencedora, na avaliação de gestores de fundos de investimento do mercado brasileiro.
A expectativa dos especialistas é a de que os juros americanos ainda devem caminhar para patamares mais próximos de 5% ao longo de 2023, e, por causa disso, mesmo com a correção recente, as ações nos EUA não alcançaram níveis que podem ser considerados baratos ou atrativos.
Já no caso do Brasil, o provável início do corte dos juros pelo BC (Banco Central) em algum momento no próximo ano, e os ganhos de eficiência à economia trazidos pelo conjunto de reformas aprovadas nos últimos anos, podem levar a Bolsa para patamares entre 130 mil e 150 mil pontos durante os próximos meses.
“O Brasil está relativamente muito bem. Estamos menos feios que os demais”, afirmou Felipe Guerra, sócio-fundador e diretor de investimentos da gestora Legacy Capital, durante participação em evento da Bloomberg nesta quinta-feira (6) em São Paulo.
Ele acrescentou que o BC brasileiro fez o processo de ajuste nos juros antes dos pares globais, obtendo como consequência um controle da inflação também na frente do resto do mundo. “Se tiver uma continuidade da política econômica, a inflação certamente vai descer.”
Sócio-fundador e co-diretor de investimentos da Vinland Capital, André Laport afirmou que, considerado o histórico de preços, a Bolsa brasileira “está barata” nos níveis atuais. Ela pode se tornar um destino atraente para os estrangeiros em busca de retornos, com a redução da incerteza sobre a política econômica do país em 2023 após o primeiro turno, afirmou.
Laport disse ainda que, no curto e médio prazo, não descarta o índice Ibovespa sendo negociado ao redor dos 130 mil pontos. O gestor, que espera um pouso brusco da economia dos Estados Unidos no ano que vem, considera a possibilidade de aposta na alta da Bovespa (long) e queda do S&P 500 (short).
Guerra, da Legacy, indicou um otimismo ainda maior, e afirmou que a Bolsa aos 150 mil pontos no ano que vem não é uma hipótese completamente fora do radar, desde que o governo eleito no final deste mês tenha como prioridade uma agenda de reformas e de ajuste fiscal.
Nesse sentido, ele afirmou que vê com muito mais otimismo para o quadro macroeconômico do país uma reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), em comparação a uma vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na opinião de Guerra, em um cenário de reeleição, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá maior segurança para iniciar mais cedo o corte de juros, e em magnitude mais intensa, abrindo espaço para um forte desempenho positivo da Bolsa local.
Já para Paula Moreira, diretora de renda fixa, moedas e commodities do Goldman Sachs, independentemente de quem ganhar as eleições, a expectativa é que o governo adote um viés mais populista, principalmente na segunda metade do mandato.
Por isso, a torcida, acrescentou a especialista, é a de que o governo eleito aproveite o primeiro ano para endereçar reformas estruturais importantes para o desenvolvimento econômico do Brasil. Ela citou a reforma tributária e a administrativa entre as que deveriam estar entre as prioridades nos planos do governo a partir de 2023.
“A gente vê, pelo menos no curto prazo, uma outperformance (desempenho acima da média de mercado) dos ativos brasileiros, independente de quem ganhar”, afirmou a diretora do banco americano, que citou uma posição comprada em real e vendida em outras moedas da América Latina como uma estratégia que pode trazer retornos positivos aos bolsos dos investidores.