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quarta-feira 6 de dezembro de 2023 às 16:04h

Após três anos de perdas, setor aéreo deve voltar a lucrar em 2023 e 2024

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Depois de três anos no vermelho por causa da pandemia, a indústria aérea volta a ter perspectivas mais favoráveis aos seus resultados. Em 2023, o setor deverá fechar pela primeira vez no azul desde 2019, com um lucro líquido de US$ 23,3 bilhões (margem de 2,6%), revertendo o movimento de perdas em 2022, 2021 e 2020 – sendo este último de acordo com reportagem de Cristian Favaro, do Valor, o mais desafiador para as companhias, quando o prejuízo totalizou US$ 137,7 bilhões, com margem negativa em 35,8%.

Os dados foram divulgados pela Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) na manhã desta quarta-feira, em Genebra, na Suíça. A associação divulgou ainda projeções para 2024, quando as aéreas devem alcançar um lucro líquido de US$ 25,7 bilhões (margem de 2,7%), alta de 10,3% contra a estimativa para 2023.

“Considerando as perdas nos anos recentes, a estimativa de lucro líquido de US$ 25,7 bilhões para 2024 é um tributo à resiliência da aviação”, afirmou Willie Walsh, diretor-geral da Iata, durante coletiva com jornalistas.

Já a receita da indústria aérea deve ter alta de 6,9% em 2023 ante 2019, para US$ 896 bilhões. Se o resultado for confirmado, será a primeira vez que o patamar pré-pandemia é superado. Para 2024, a estimativa é alcançar receita recorde de US$ 964 bilhões.

Apesar da sinalização mais favorável, Walsh apontou ainda segundo o jornal Valor, que os lucros esperados para a indústria precisam ser colocados em contexto.

“Embora a recuperação seja impressionante, a margem de 2,7% é muito menor do que os investidores em qualquer outra indústria aceitariam”, disse.

Segundo dados da Iata, em média, as aéreas devem fechar este ano com um lucro por passageiro de US$ 5,44. No ano que vem, a estimativa é de quase estabilidade, de US$ 5,45 por passageiro. “Isso é quase o suficiente para comprar um ‘grande latte’ em um Starbucks, em Londres. Mas é muito pouco para construir um futuro que seja resiliente a impactos para uma indústria crítica que sustenta 3,5% do PIB global e emprega 3,05 milhões de pessoas diretamente”, disse.

A expectativa é que o setor aéreo global transporte 4,7 bilhões de passageiros em 2024, ultrapassando pela primeira vez o período pré-pandemia, quando 4,5 bilhões foram transportados. Para 2023, a previsão é de 4,29 bilhões de viajantes.

Espera-se que as receitas de passageiros atinjam US$ 717 bilhões em 2024, um aumento de 12% em relação aos US$ 642 bilhões esperados para este ano. Já o crescimento da receita por passageiro-quilômetro (RPKs) deverá ser de 9,8% no ano que vem.

A associação destacou que, embora o salto em RPK seja mais do dobro da tendência de crescimento pré-pandemia, espera-se que 2024 marque “o fim dos dramáticos aumentos anuais que têm sido característicos da recuperação em 2021-2023”.

Segundo a Iata, a elevada procura de viagens, aliada à capacidade limitada diante da dificuldade de se conseguir aviões e peças, continua criando condições de oferta e procura que apoiam o crescimento dos rendimentos. Com isso, o setor espera um salto no yield (preço pago para se voar um km) de 1,8% em 2024 contra 2023. Em 2022, o salto anual foi de 9,5%, e, em 2023, de 6,2%.

“Como indústria, a boa notícia é que a recuperação já chegou. Agora estamos olhando para frente”, disse Andrew Matters, diretor de políticas e de economia da Iata, a jornalistas.

A Iata prevê que o fator de utilização das aeronaves alcance de 82,6% em 2024, ligeiramente melhor que 2023 (82%) e igual a 2019.

América Latina deve ter prejuízo líquido em 2023 e 2024

Apesar da expectativa de que a aviação global vai voltar a lucrar em 2023 e 2024, a indústria da América Latina deve continuar no vermelho. A projeção para este ano é de prejuízo líquido de US$ 600 milhões, 84,6% menor do que as perdas do ano anterior. Já para 2024, a estimativa é de que as perdas fiquem em US$ 400 milhões.

“A América Latina é uma região muito dinâmica e que tem muita diversidade”, disse Andrew Matters, diretor de políticas e de economia da Iata, a jornalistas. “Temos algumas aéreas com bons números, mas tem um grande número de aéreas sofrendo”, disse. Por aqui, duas das principais companhias, Avianca e Latam, saíram de processos de recuperação judicial recentemente.

Apesar da linha final dos balanços ainda no vermelho, Matters disse que a indústria tem visto uma melhora operacional na América Latina. A margem operacional em 2023 deverá ficar negativa em 0,2%, mas tende a virar para um resultado positivo de 0,5% em 2024.

“Temos uma visão mais dura para a região quando vemos o que acontece na economia. Na nossa projeção temos uma melhora na performance, mas em termos de lucro ainda esperamos perdas modestas neste ano e no próximo”, disse.

Sobre o tema, Walsh, diretor-geral da Iata, disse que a região sofre hoje com elevadas tarifas de infraestrutura e custo elevado para combustível, o que dificulta o cenário operacional da indústria.

Combustível

A alta do preço do petróleo globalmente, amparada pela incerteza geopolítica, tem jogado contra os balanços das aéreas em todo o mundo. O combustível de aviação – derivado da commodity – representou 32% dos custos operacionais das empresas do setor neste ano. Em 2019, sem os efeitos adversos da pandemia sobre a economia global, o percentual era de 24%. Em 2024, a estimativa é de que o percentual sobre as despesas fique em 31%.

“A boa notícia é que (neste ano) o combustível está mais barato do que no ano passado (de US$ 135,6/barril em 2022 para US$ 115,5 em 2023)”, ponderou Andrew Matters, diretor de políticas e de economia da Iata, a jornalistas.

No Brasil, a indústria tem criticado o custo do querosene de aviação, que já representa mais do que 40% do custo operacional das empresas locais. O tema tem sido alvo de conversas com o governo, que busca uma solução para reduzir o preço das passagens aéreas e tornar o modal aéreo mais acessível.

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