O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), receberia o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em sua casa para discutir a tramitação do arcabouço fiscal, mas a reunião foi cancelada após chegar aos ouvidos do deputado as falas de Haddad no podcast Reconversa publicado nesta segunda-feira (14).
“O Rodrigo Pacheco é um senador espetacular, também tem dado uma contribuição enorme e, o Pacheco no caso tem outro perfil, é mais discreto, é mais negociador”, disse Haddad ao jornalista Reinaldo Azevedo e ao advogado Walfrido Warde.
“Quem está valorizando o diálogo com a Câmara também deveria valorizar o diálogo com o Senado que está espetacular e o fato é que estamos conseguindo encontrar caminho. Não está fácil, não pense que está fácil. A Câmara está com um poder muito grande e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo”, seguiu o ministro.
Além de cancelar a reunião que teria com Haddad, o presidente da Câmara dos Deputados reforçou o descontentamento nas redes sociais.
“Todos os projetos de interesse do país são discutidos e votados com toda seriedade e celeridade”, escreveu no Twitter.
“A PEC da Transição, a histórica aprovação da Reforma Tributária e a votação do Arcabouço Fiscal, votadas para e neste Governo, são legados deixados por uma Câmara dos Deputados comprometida com o país, seu progresso e desenvolvimento, como anseia o povo brasileiro. É equivocado pressupor que a formação de consensos em temáticas sensíveis revela a concentração de poder na figura de quem quer que seja”, seguiu.
O deputado disse ainda que tem se empenhado para o “diálogo permanente com os líderes partidários e os integrantes da Casa”, a fim de obter maioria em projetos importantes.
“Manifestações enviesadas e descontextualizadas não contribuem no processo de diálogo e construção de pontes tão necessários para que o país avance”, concluiu Lira.
Na Fazenda, Haddad tentou se explicar. Ele afirmou ter telefonado ao presidente da Câmara para “esclarecer o contexto” das suas declarações. O ministro afirmou ainda que dividiu todas as conquistas da agenda econômica com o Congresso e o Judiciário e afastou qualquer crítica aos deputados.
“As minhas declarações foram tomadas como uma crítica à atual legislatura. Na verdade, eu tava fazendo uma reflexão sobre o fim do chamado presidencialismo de coalização. Na verdade, nós tínhamos até os dois primeiros governos Lula, um presidencialismo de coalização. E isso não foi substituído por uma relação institucional mais estável. Então eu defendi durante a entrevista que essa relação fosse mais harmônica e que pudesse produzir os melhores resultados.
Questionado se há clima para que ele retorne à residência oficial da Câmara, como fez com frequência nos últimos meses, Haddad pediu para “não fazer disso um cavalo de batalha”, registraram Ramiro Brites e
, da Veja.“Eu sou só elogios para a Câmara, pro Senado e pro Judiciário. Nós não teríamos chegado até aqui sem a concorrência dos Poderes da República. O que eu defendi é que, em virtude de um arranjo institucional que já não tem mais vigência, a gente procurasse uma moderação entre os Poderes pra continuar entregando pro país as medidas que o país tanto precisa”, comentou.
Haddad então disse que há previsão de ele se reunir nesta semana com as lideranças partidárias, sobre o marco fiscal.
“Vou participar, claro […] Porque eu tô defendendo aqui o interesse público, não tô defendendo interesse pessoal. Eu nunca vou à casa do presidente da Câmara ou do Senado pedir alguma coisa de caráter pessoal, é sempre institucional. Eu quero crer que não vai ser uma questão como essa que vai colocar em risco uma relação construída durante muitos meses e que rendeu tantos frutos pro país”, declarou.