Em meio à onda de rejeição ao plano anunciado pelo presidente americano, Donald Trump, de retirar os palestinos da Faixa de Gaza e assumir o território, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, deu ordem nesta quinta-feira (6_ para que o Exército prepare um plano do que chamou de saída voluntária da população de Gaza. A movimentação do ministro, que classificou o plano de Trump como “audacioso”, ocorre em um momento em que a Casa Branca tenta amenizar a fala do presidente.
“Pedi ao Exército israelense para preparar um plano para permitir que os habitantes de Gaza saiam voluntariamente”, afirmou em um comunicado, acrescentando que o objetivo é permitir a saída de “qualquer residente de Gaza que deseje, para qualquer país que os aceite”, sugerindo que países como Espanha, Irlanda e Noruega, que se opuseram às operações militares israelenses no enclave, teriam a obrigação de recepcioná-los.
Ainda de acordo com o ministro, o plano incluiria opções de saída através das passagens terrestres, assim como medidas especiais para saídas por mar e ar. Katz, contudo, não explicou como imagina que isso se dará, uma vez que o único aeroporto de Gaza foi destruído durante a Segunda Intifada (2000-2005) e o território não possui um porto para o transporte de passageiros.
Ele também não detalhou se Israel permitiria o trânsito dos habitantes de Gaza pelo país — uma vez que é o Estado judeu que proíbe que os palestinos deixem o território, com o único ponto de passagem para o Egito aberto apenas para transferências médicas, que acontecem de maneira muito limitada.
A proposta delineada por Trump durante uma coletiva de imprensa ao lado do premier de Israel, Benjamin Netanyahu, na Casa Branca, incluiria a retirada de todos os palestinos de Gaza (uma população de cerca de 2,3 milhões), a tomada de controle sobre o território (usou o termo “propriedade de longo prazo” para definir o papel a ser assumido pelos EUA), a limpeza de destroços e retirada de explosivos não detonados da região, para, ao fim, construir uma “Riviera do Oriente Médio” não só para os palestinos, mas “para todos”.
O presidente americano não especificou como ficaria a soberania da região durante e depois do mandato americano, nem como ficariam os cidadãos retirados.
A Casa Branca começou uma operação para amenizar as declarações de Trump, que geraram uma onda de reações internacionais, em sua ampla maioria rejeitando por completo aquilo que a ONU definiu como “limpeza étnica”. Especialistas afirmaram que o plano do republicano seria impossível de ser alcançado sem atropelar uma série de regras e princípios que regem a relação entre os Estados e o direito humanitário.
A porta-voz da Presidência americana, Karoline Leavitt, disse na quarta que Trump não havia se comprometido em enviar soldados para Gaza — algo que o presidente disse textualmente que faria, caso fosse necessário. O secretário de Estado Marco Rubio, que na quarta-feira parabenizou o plano de Trump e fez um trocadilho com o slogan de campanha do republicano para dizer que ele faria “Gaza bonita novamente”, afirmou nesta quinta que a retirada dos palestinos seria algo temporário.
Rubio, em viagem à Guatemala, parte de seu tour pela América Latina, disse que a proposta de Trump não era “hostil”, mas uma “ação generosa”, mostrando “a disposição dos Estados Unidos de se tornarem responsáveis pela reconstrução daquela área”. Ele disse que a ideia era que os moradores de Gaza deixassem o território por um período “interino”, enquanto os escombros eram removidos e a reconstrução ocorria.
Ainda nos EUA, Netanyahu demonstrou apoio à proposta de Trump. Em uma entrevista à Fox News, na quarta-feira, ele disse não ver nada de errado com o projeto.
— Esta é a primeira boa ideia que ouvi. É uma ideia notável e acho que deve ser realmente perseguida, examinada, perseguida e feita porque acho que criará um futuro diferente para todos — disse o premier. — A ideia real de permitir que os primeiros moradores de Gaza que querem sair saiam, quero dizer, o que há de errado nisso?