Dois anos depois de se tornarem alvos de críticas por discrepâncias entre os resultados das urnas e seus levantamentos nas eleições de 2022, os institutos de pesquisa apresentaram medições de intenções de voto de véspera próximas às votações contabilizadas no pleito deste ano. Além de reforçarem que as pesquisas são um “retrato do momento” e não preveem o futuro, especialistas ouvidos pelo jornal O Globo destacam que a natureza da corrida municipal e o arrefecimento da polarização contribuíram para uma menor volatilidade do voto às vésperas ou no dia da disputa, o que ajuda a explicar a maior proximidade das pesquisas com as urnas na comparação com as eleições presidenciais.
Em São Paulo, a disputa apertada entre o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) e o ex-coach Pablo Marçal (PRTB) foi sinalizada pela Quaest e pelo Datafolha. A distância entre o primeiro e o terceiro foi de pouco mais de 80 mil votos, dentre os 9,32 milhões de moradores da capital paulista.
Nas disputas do Rio de Janeiro e Recife, a possibilidade reeleição de Eduardo Paes (PSD) e de João Campos (PSB) em primeiro turno também já havia sido apotanta pelos institutos de pesquisa. Já em Fortaleza e em Belo Horizonte, os segundos turnos ocorrem entre os dois candidatos numericamente à frente nos levantamentos divulgados na véspera do pleito.
— As pesquisas foram capazes de captar o clima da eleição, retratando não apenas as grandes tendências, como também capturando as ondas na reta final. A democracia brasileira e, especialmente, o eleitor é quem mais ganha com isso — defende Felipe Nunes, sócio-fundador da Quaest.
O presidente da Associação brasileira de empresas de pesquisa (Abep), Duílio Novaes, ressalta que eleições municipais são diferentes das majoritárias.
— A pesquisa diagnostica o momento. Não é previsão de futuro. Quando as intenções de voto estão consolidadas os resultados se aproximam dos resultados oficiais. Porém, quando há uma volatilidade, ocorrem mudanças bruscas de última hora. Medimos a intenção de voto e não o comportamento do eleitor — explica.
Há dois anos, pesquisas eleitorais divulgadas na véspera da eleição apresentaram discrepâncias com o resultado das urnas na disputa pela Presidência, por governos de estados com grandes colégios eleitorais e por vagas no Senado. Os 43,2% alcançados por Jair Bolsonaro (PL) nas urnas no primeiro turno, por exemplo, superaram o que haviam medido os principais institutos um dia antes do pleito.
O cientista político Antonio Lavareda explica que a proximidade dos cenários projetados pelas pesquisas com o resultado deste ano pode ser explicada pela natureza desta eleição, que transcorreu com maior “naturalidade” do que a anterior. Segundo o pesquisador, não houve mudança de metodologia e o desempenho do prefeito no mandato em vigor foi o principal motivador do voto.
— Não houve movimentação na reta final nas capitais onde o prefeito é bem avaliado. O que vimos em 2022 foram candidatos do campo bolsonaristas ao Senado que eram pouco conhecidos e tiveram um crescimento relâmpago de última hora — aponta.
Para Raphael Nishimura, pesquisador da Universidade de Michigan (EUA) especializado em estatística, a maior proximidade nos resultados pode ter sido impactada por menos mudanças de voto na última hora, em comparação com 2022. Ele aponta que pesquisas são “retratos do momento em que são feitas” e que o eleitor pode decidir pelo candidato, até mesmo, no dia do pleito.
— Figuras que se colocam como antissistema, como Bolsonaro, fomentam a desconfiança com institutos de pesquisa. Pode ocorrer que eleitores destes candidatos se recusem a responder as pesquisas. Mas, cada ciclo eleitoral é diferente e o pleito local tende a ser menos polarizado e os institutos buscam aprimorar o método para captar o cenário em cada local — destaca.
O Datafolha ressaltou que as pesquisas do instituto “contaram com coerência a história do resultado revelado nas urnas” em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife.
“Entender a evolução do conhecimento, a rejeição dos candidatos, a parcela de indecisos, a consolidação das escolhas e a evolução das intenções de voto permitiu apresentar aos eleitores um cenário amplo dessas disputas”, disse.