Os Estados Unidos levam dias para contabilizar os votos de todo mundo e bater o martelo sobre quem vai governar o país pelos quatro anos seguintes. Essa lentidão do sistema norte-americano, evidenciada por uma eleição presidencial tão acirrada, gerou comparações com o jeito brasileiro de escolher os nossos representantes. Teve muita gente que foi para o Twitter reverenciar a razão principal da nossa agilidade quando o tema é eleições: a urna eletrônica.
Nas nossas quatro últimas eleições presidenciais, o brasileiro foi dormir, chorando ou sorrindo, já sabendo quem tinha vencido. Conforme reportagem do Uol, nós brasileiros parecemos estar tão acostumado com essa rapidez que se esquece que o Brasil é enorme, tem 147,9 milhões de eleitores, e que em décadas passadas a nossa contagem de votos chegava a durar dias, assim como nos EUA.
Quem se lembra das eleições de 1994, quando a vitória de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) demorou 14 dias para ser oficializada?
O processo é rápido porque não é preciso deslocar as urnas eletrônicas para as capitais, que é onde estão os TREs (Tribunais Regionais Eleitorais).
A transmissão dos dados é feita de maneira rápida e segura por meio de uma rede privada do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), que é quem realiza e fiscaliza as eleições no Brasil — os EUA não possuem um órgão federal responsável pela divulgação dos resultados, cada estado que lute.
Ela é feita de um ponto físico com acesso a esse sistema privado, que pode ser no próprio local de votação, em um cartório, nos TREs e entre outros.
Por isso que o tempo que demora para processar e divulgar os resultados da eleição no Brasil depende mais dos nossos três fuso horários do que do processo em si, algo bem diferente de como era antigamente. Quem é mais velho vai lembrar das imagens dos nossos votos sendo contados na mão passando no noticiário à noite.
Como funciona a urna eletrônica?
Os votos são computados dentro de cada urna de maneira embaralhada e criptografada, para que ninguém consiga identificar quem votou em quem, e as informações ficam armazenadas dentro do equipamento.
Só no final do dia de votação é que o sistema interno da urna calcula os votos e produz um arquivo chamado Registro Digital de Voto. Então, ele é gravado numa espécie de pen drive, chamado Memória de Resultado, de uso exclusivo da Justiça Eleitoral.
A Memória de Resultado de cada urna é levada por um fiscal para esse ponto físico com acesso ao sistema da Justiça Federal. Para ter acesso aos dados contido no tal “pen drive” é preciso ter uma assinatura digital, que faz a autenticação.
Por precaução, os mesmos dados contidos na Memória de Resultado continuam armazenados em um cartão de memória dentro da urna, funcionando como backup caso exista algum problema com o outro dispositivo.
Como a urna eletrônica foi projetada para ser um dispositivo isolado — ou seja, ela não está ligada à internet, a bluetooth ou a nenhum tipo de rede —, é praticamente nula a possibilidade um ataque hacker. O software da urna é um sistema Linux desenvolvido pelo próprio TSE e que não possui mecanismos de conexão à rede.
Para invadir o dispositivo, o hacker precisaria ter a posse de cada uma das urnas e violar o sistema de uma por uma. Ainda assim, para violar o software, ele precisaria vencer todas as barreiras de segurança sem que a urna automaticamente travasse. O sistema de segurança é feito em camadas e qualquer ataque gera um efeito dominó que provoca o bloqueio.
Por isso a gente pode dizer que é mais fácil hackearem a Nasa que as eleições no Brasil.
Urna veio para democratizar o voto
É sempre bom lembrar que a urna eletrônica brasileira foi criada para facilitar o processo de votação, não apenas fornecendo agilidade e segurança, mas democratizando-o ainda mais. Com ela, quem não sabia ler e nem escrever passou a ter mais facilidade para votar, já que antes era preciso escrever o nome dos candidatos na cédula.
Além disso as urnas eletrônicas são acessíveis para atender pessoas com deficiência visual. Todas têm sistema braile e identificação da tecla número cinco nos teclados. Além disso, seções eleitorais especiais disponibilizam fones de ouvido, sempre que houver solicitação específica, para que o eleitor com deficiência visual receba sinais sonoros com indicação do número escolhido.
Afinal, o direito a voto é de todos os cidadãos brasileiros e ninguém deve ser excluído do processo eleitoral.