O governo do Sri Lanka bloqueou o acesso a redes sociais neste domingo (21), logo após a série de ataques contra igrejas e hotéis que deixou mais de 200 pessoas mortas no país em plena Páscoa. A medida é uma tentativa de impedir a disseminação de boatos relativos aos atentados. Um toque de recolher também foi decretado em todo o território até às 6h de segunda (22) e as escolas estarão fechadas.
Segundo a ONG britânica NetBlocks, que monitora a disponibilidade da internet em diferentes países, os moradores do Sri Lanka estão sem acesso a Facebook, Instagram, YouTube, WhatsApp e SnapChat, entre outras plataformas. “As pessoas agora só conseguem se comunicar por SMS ou por Twitter, creio”, disse Roshni Fernando, que vive no país, ao jornal “The Washington Post”.
O secretário da Presidência do Sri Lanka, Udaya Seneviratne, confirmou o bloqueio das redes sociais. Segundo ele, o objetivo da ação é impedir que informações falsas circulem nessas plataformas e acirrem as tensões. Mais cedo, o governo tinha pedido que a população não compartilhasse notícias falsas que causassem uma “desarmonia social” no país.
O pesquisador Sanjana Hattotuwa, do Center for Policy Alternatives em Colombo (maior cidade do país), disse ao “Washington Post” que há uma grande quantidade de informações erradas circulando sobre o número de mortos e feridos nos atentados.
Como parte de seu trabalho, Hattotuwa monitoria as redes sociais em busca de fake news e de conteúdos de incitação ao ódio ou à violência no país. Ele afirmou que boatos sobre a autoria do ataque estariam se espalhando rapidamente no idioma cingalês no Facebook e no Twitter. Um deles atribui os atentados a homens-bombas muçulmanos, informação que não foi confirmada até o momento pelas autoridades.
O temor é que voltem a se repetir as cenas de março de 2018. Na ocasião, um boato circulou nas redes sociais afirmando que um homem muçulmano teria assassinado uma pessoa da etnia cingalesa –que engloba 75% da população e segue majoritariamente o budismo.
O caso deu início a uma onda de violência contra a minoria muçulmana (cerca de 10% da população), o que fez o governo decretar estado de emergência e bloquear temporariamente as redes sociais até a situação se acalmar. Com 22 milhões de habitantes, o Sri Lanka é marcado por uma série de conflitos étnicos e religiosos entre a maioria cingalesa e as minorias tâmil (que segue principalmente o hinduísmo e inclui 11% da população).
Entre 1983 e 2009, o país viveu uma guerra civil entre o governo e grupos que defendiam a criação de um Estado tâmil no norte do país. O conflito só acabou quando as forças oficiais fizeram uma ofensiva militar contra a minoria que, segundo o jornal britânico “The Guardian”, teria deixado até 40 mil tâmil mortos.