Presidente da CBPM foi um dos convidados no webinar “A Bahia nos Trilhos”, ocorrido nesta semana
As críticas ao estado de abandono da malha ferroviária baiana, administrada pela empresa VLI desde os anos 90, deram o tom das falas no webinar “A Bahia nos Trilhos”, ocorrido na tarde da última quarta-feira, 14.
Participaram do evento o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Antonio Carlos Tramm, o especialista em ferrovia e logística Bernardo Figueiredo, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Juazeiro, Carlos Neiva, e o ex-senador Waldeck Ornelas. O evento foi moderado pelo diretor-executivo da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport), Paulo Villa.
Durante sua fala, Tramm cobrou que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) demonstrasse os investimentos feitos pela VLI na malha baiana. “A concessionária precisa entregar a ferrovia no mesmo estado em que recebeu. Não temos nada contra a privatização, mas é preciso que ela seja benéfica para a população. O governo federal não cobrou nada deles, não fiscalizou, não exigiu a manutenção nem a modernização, e hoje temos trens que andam a ‘fabulosos’ 11 km/h, não transporta mais gente e nem cargas”, disse.
Figueiredo defendeu a criação de um projeto que integre a região nordeste ao restante do país. “Hoje nossa região é desconectada do sudeste. O PNL (Programa Nacional de Logística) de 2015 já mostrava que as rodovias BR 101 e 116 são os corredores com mais carga do Brasil e paralelo a elas na Bahia nós temos uma ferrovia que está abandonada. Já estava abandonada na época da administração federal e continuou com a concessão. Então precisamos fazer um remodelamento dessa linha, para conectar o nordeste ao sudeste. Se a VLI não tem interesse em fazer isso, ela deveria entregar o trecho e permitir que outra concessionária faça”, afirmou.
Em seguida, Carlos Neiva informou que 92% da manga exportada no país sai do vale do São Francisco e é escoada pelo porto de Suape, em Pernambuco, gerando enorme perda de recursos para a Bahia. “Além do mercado de frutas, que poderia ser escoado de trem, o norte Baiano tem ainda o cobre da Mineração Caraíba, que já atua há décadas na região e está em crescimento, e uma nova fonte de cargas vindas da Colomi Iron, que já anunciou investimentos de R$ 11 bilhões numa mina de minério de ferro. Acho que falta atenção à força que nós temos aqui no norte, com o agronegócio, mineração, as energias renováveis”, disse.
Para o ex-senador Waldeck Ornelas, a Fiol vai ser o mais importante projeto do novo século na Bahia, em oposição ao abandono da malha tradicional baiana. “O primeiro impacto já neste trecho 1 é a reanimação do litoral sul, que foi inteiramente degradada desde meados dos anos 80. Por outro lado, não podemos aceitar que a malha tradicional, fundamental para a região metropolitana de Salvador, permaneça abandonada. A renovação antecipada da concessão apresenta ausência explícita de investimentos na malha baiana, salvo se custeado pelos usuários. Isto significa esterilização e é inaceitável”, concluiu Ornelas.
Os participantes chegaram à conclusão unânime de que a Bahia não pode passar mais 30 anos sem uma malha ferroviária ativa e competitiva, que sirva de integração com a região sudeste e que atue como facilitador para a execução do enorme potencial produtivo do interior do estado. Por isso, é preciso lutar para que a nova concessão da FCA garanta os investimentos necessários para a revitalização do trecho que passa pelo estado.
A íntegra do evento pode ser reassistida no youtube da Usuport.